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Curioso! No mesmo dia, ataques na capital do Brasil lembraram que somos um país do futuro e um país do passado. Próximo ao bilionário estádio Mané Garrincha, um policial foi flechado por um índio em fúria. Em Brasília, e-mails e sistemas de dados do Itamaraty foram alvos de ataques eletrônicos.

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Os índios reclamam seus direitos de verem suas terras demarcadas. Havia na passeata também sem-teto que reclamavam seus direitos de terem onde morar. O alvo do protesto era o estádio nacional de Brasília, que consumiu centenas de milhões de reais e não vai dar guarida a ninguém, índios, pobres ou rigobertos. Diante do protesto, a polícia agiu como sempre, usando o inesgotável arsenal de bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha nos manifestantes. O caldo de insatisfações perenes e irritações permanentes encontram na Copa seu alvo predileto. Também não é pra menos: cada dia fica mais difícil sustentar que o “legado” do evento justifica sua existência. Ainda esses dias, Joana Havelange, membro oficial do Comitê Organizador da Copa do Mundo, afirmou em seu perfil do instagran: “Quero que a Copa aconteça da melhor forma. Não vou torcer contra, até porque o que tinha que ser gasto, roubado, já foi”. Por isso nem os índios, famosos por sua paciência secular, aguentam!

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Daí vem a notícia de que sofisticados hackers invadiram o site dos diplomatas. É fato que, segundo os próprios diplomatas, o sistema é frágil e nem foram necessários muitos esforços para burlar a segurança. E o que ainda havia para revelar que os cookies espiões do Obama já não tivesse visto? De qualquer forma é risível a situação: Itamaraty consternado e não se vê um cidadão com pena deles!

Enfim, o fato é que nem um presente conseguimos ter, afundados em um passado de flechas e um futuro capenga de ataques eletrônicos. O objeto desse limbo temporal, porém, parece ser o mesmo: insatisfação, insatisfação, insatisfação.

Há uma ideia importante de que a felicidade está relacionada a viver em um ambiente que nos dê  – mais do que dinheiro ou posição – a sensação de bem estar. Daí as imagens recorrentes de redes sob coqueiros ou a companhia prazerosa de amigos em passeios por ruas calmas e bares com portas abertas e sorrisos ao léu.

Essa sensação tem nos fugido. Há um ressentimento que se generaliza e, ao mesmo tempo se agudiza. Há até mesmo um certo frisson de satisfação com o tropeço diário e ( parece) inevitável dos nossos governos, em todas as esferas. Esse caso da Copa é emblemático. Gostamos tanto de futebol ,torcemos tanto por nossos clubes do coração, discutimos como 200 milhões de técnicos que somos. Mas, dessa vez, parece que o espetáculo que esperamos é o dos índios e dos hackers, protestando e causando constrangimento aos governantes.

Quando sentimos que essas manifestações nos faz sentirmo-nos vingados, há algo de profundamente errado. Conosco, em primeiro lugar. Mas com todos, sem dúvida alguma.

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