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Inveja: um jeito de viver.

Hoje assisti ao filme A Vida Secreta de Walter Mitty, dirigido pelo comediante americano Ben Stiller. O personagem lembra muito Peter Sellers em “Muito Além do Jardim”, não por qualquer coincidência de roteiro, mas pela natureza mesma do personagem, um homem simples, inocente, autêntico. Aliás, autenticidade é , parece-me, a palavra chave do filme. O que me leva à palavra inveja, que é a busca por mimetizar o autêntico. Ou simplesmente ignorá-lo, em uma ilusão de que a perfeição e a felicidade podem ter uma receita a ser seguida.

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O psicanalista Contardo Calligaris fala, com propriedade, da experiência contemporânea que é causar inveja aos outros. Isso, fundamentalmente, baliza nossas ações, nossos gestos e nossas opções. Agimos de forma a reproduzir a ideia que os outros tem de uma vida perfeita, “sonhamos ser o que os outros sonham e não apenas ter uma experiência que traga, para nós, alguma satisfação verdadeira. E os mercadores  se aproveitam largamente disso. Nas propagandas de roupas ou de carros, por exemplo,  não é nosso prazer estético ou esportivo ou de conforto ou de performance que é focado, mas o olhar dos outros nos vendo vestidos ou conduzindo. É esse resultado que desejamos para nossa vida. Uma vida que deslumbre e que entonteça. E que seja comentada, é claro.

Daí alimentarmos um constante sentimento de busca e destaque, o que nos leva, muitas vezes, a dizer o que não pensamos, comprar o que não precisamos e nem mesmo gostamos ou, principalmente, agirmos como não acreditamos, expondo-nos a situações bizarras, humilhantes ou violentas. O efeito “espetacular” dessas ações, o brilho de inveja e admiração dos outros é nosso objetivo na vida. Queremos ser “curtidos” e , de preferência, gloria das glorias, compartilhados.

O personagem do filme, um dedicado revelador de negativos da famosa revista americana LIFE, sonha sua vida acreditando que pode ser essa pessoa capaz de despertar inveja. Mas o que é invejável é o que ele vinha fazendo há 16 anos: sendo íntegro  e correto. E ele vai até o “fim do mundo” para descobrir isso: que ele não precisava ser um outro para ser capaz de ser capa de revista. Ser quem ele era, autêntico e real, era já a “quintessência da vida”.

 

Feliz Natal a todos os que me leram , gostaram e criticaram ( e para todos que nem sabem que eu existo, é lógico!). Excelentes dias!

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