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O caráter preguiçoso do autoritarismo:
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Reparem bem: todo autoritário, com sua voz de trovão e gestos ameaçadores, é um preguiçoso. Explico-me: a alternativa da violência , em qualquer instância – do pai que castiga ao comandante que derruba um presidente – é o diálogo voltado para o convencimento. O problema do diálogo, porém, é a réplica. O outro lado também tem direito a dialogar! E o que fala precisa desconstruir o discurso do outro e aproxima-lo do seu. Ao mesmo tempo, para ganhar terreno, precisa fazer concessões, aceitar a convergência no acessório para garantir o principal. O outro, entregando os pontos frente ao poder de convencimento, converte-se em aliado e até mesmo em discípulo.

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Mas tem mais: uma vez convencido pelo diálogo, o outro acostuma-se com as perguntas e a interlocução. Daí que o exercício do comando, da direção, é uma constante engenharia de consensos, ora bem amarrados, ora provisórios, tapumes de um futuro prédio.

Nem precisa dizer o trabalho que isso dá. Primeiro exige formação. Não é qualquer um que consegue convencer os outros. Depois experiência. Nesse caso, os fracassos são a escola para forjar um comandante. Ensina também a disciplina dos limites do discurso e dos enfrentamentos com os iguais ou melhores nessa arte de esgrimir ideias e convicções.

Os sofistas foram mestres nessa arte. Contestados por Sócrates e companhia, particularmente Platão, nasce a ideia de que só os sábios podem governar. Antes fosse uma ideia boa, pois que não abdicava do diálogo e os sábios deveriam ser os melhores de sua arte. O problema é que essa ideia  inspirou os fortes que por serem fortes se julgaram sábios e substituíram o que deveriam ter no cérebro por aquilo que têm nas cartucheiras. E o autoritarismo como recurso de governo eficaz e despojado ganhou terreno e a história ficou tão cheia de exemplos quanto de cadáveres.

Mas nada redime os autoritários de sua preguiça. A preguiça de ter subordinados  ao invés de parceiros. A preguiça de ter  continências ao invés de aplausos. E, principalmente a preguiça de um discurso pobre e amedrontado, ao invés do enfrentamento cívico e saudável, o duelo no qual as ideias brigam e não as pessoas, e que depois, honesta e triunfalmente, um aperta a mão do outro e postam-se do mesmo lado. Tudo pela palavra, forjada na lide entre iguais e não pelo látego que age pelas costas ou pela bala que é a síntese da preguiça dos autoritários.

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