Não é o meu caso nem sei se é apenas uma crendice, mas é comum ouvir que quando a família tem três filhos, o do meio é sempre o mais esquecido. Quem vive ou viveu essa situação pode se manifestar. Falo isso, porém, para comentar a respeito do mais desmazelado dos filhos da nossa Educação Básica: o Fundamental II ou o período do sexto ao nono ano. Mais desmazelado porque o fundamental I e o Ensino Médio são pobrezinhos de pés no chão, com a camisa cheia de furos e a calça cheia de remendos. Mas perto do fundamental II, podem até se gabar que são cuidados ou, pelo menos, há quem preste atenção neles.
Crianças até o quinto ano, adolescentes do Ensino Médio são mais vistos que a faixa que não é nem de um e nem de outro lado. No sexto e sétimo anos, são crianças mas já não são; no oitavo e no nono, não são adolescentes mas já são vistos como. É a faixa do “não-nem”: não são e nem alcançaram ainda.
Tudo muda para eles, menos a percepção de que eles é que estão em intensa mudança: hormônios, ossos, pele, cabelos, ideias, é um rebuliço essa faixa etária dos 11 aos 14 anos. Na sala, sai professor, entra professor, matérias perdem a vizinhança e tornam-se, cada uma, a “mais importante de todas”. Livros, livros, livros, muito texto, pouca figura, o tratamento carinhoso e próximo cada vez mais distante, e já há quem comece a falar do futuro, do vestibular, do emprego, do curso técnico, das responsabilidades.
Idade em que os meninos e as meninas começam a se perceberem rapazes e moças, mas não sabem explicar bem como , exceto quando a professora de biologia fala com o power point, mas não consegue justificar o que se sente, só por que se transforma. E isso não é o bastante. Daí os recreios viram sala de aula. Mas uma aula mais dura, de batismos e excomungações, de fazer qualquer coisa para não ficar fora, out, lost, loser. Crianças com cara-caricatura de adolescentes, buscando inventar uma pose que seja aceita, um bando de garatujas com pernas finas e voz dissonante.
Não sei se os filhos do meio são esquecidos ou relegados a um segundo plano. Mas sei que no mar de problemas que é nossa educação, há que se olhar urgentemente para esse fio solto que é o fundamental II, pois as conquistas que os primeiros anos alcançam se dissipam e o Ensino Médio definha de qualidade, chegando só um corregozinho de energia na Universidade, cada vez mais precarizada de cultura e erudição. Todos pagam, todos sofrem. Principalmente esses quase jovens, de olhar perdido nos recreios de medo.