O IBGE trouxe novos dados sobre a condição dos jovens brasileiros. Um desses dados é bastante relevante: cerca de 10 milhões de jovens entre 18 e 29 anos nem trabalha e nem estuda.
E o que fazer com eles?
Ninguém duvida que essa ociosidade entre jovens em áreas precarizadas dos grandes centros urbanos é um convite a práticas que quase sempre resultam em problemas com a polícia, exercendo esses mesmos jovens os papéis de vítimas ou protagonistas.
Também é bastante claro que a economia de um país que luta para se inserir em um mundo globalizado e altamente competitivo vê esses jovens “nem-nem” como “refugo”, peças sem maior utilidade, exceto pelo aproveitamento em pequenas funções braçais e pouco ou quase nada produtivas. Não ter qualificação ou não estar permanentemente se atualizando é como correr uma corrida de cem metros com o Usain Bolt: em 5 segundos você já está 60 metros atrás.
Também é bastante claro que os que trabalham não nutrem grandes simpatias pelos “nem-nem”. Afinal, “só não trabalha quem não quer!”. Assim, seguindo esse simplório e altamente disseminado pensamento, esses dez milhões de “vagabundos” têm de arcar com sua própria inaptidão e preguiça. “Que se virem!
Igualmente sabemos todos que cresce diariamente o desejo de criminalizar os jovens, como se o superávit de 200 mil vagas nas penitenciárias não fosse já um problema que demandará décadas para ser resolvido. Mas qual é o lugar de “vagabundo”? Na cadeia!
E se não há cadeia para todos?
“Mata!” Certo que poucos são os que declaram isso. Mas quantos são os que não pensam…
Ora, dizem estes mesmos: há alguma solução?
Há. E a solução é igualmente clara: políticas públicas de inclusão. E não basta apenas oferece-las. É preciso ir buscar o jovem em casa e levar para o centro de formação. E protege-lo e estimula-lo a permanecer nos cursos e nos treinamentos. Todo o esforço para isso e todo o custo disso é necessário.
E por qual razão o governo usaria o dinheiro de nosso imposto com esses “vagabundos”?
Porque essa é a função do Estado Democrático de Direito. Criar condições, as mais plenas e eficazes possíveis, para incluir e desenvolver cidadania plena, ativa, responsável e produtiva para todos.
Algumas pessoas não precisam de nada disso. Nascem com um espírito empreendedor e curioso que não há ambiente adverso que as desestimule.
Algumas outras pessoas são profundamente resistentes a qualquer tipo de estímulo e por mais que haja ajuda, pouco ou quase nada se pode fazer para que tenham um desenvolvimento autônomo e produtivo.
A grande maioria precisa de ajuda e com a ajuda certa e persistente e permanente, conseguem dar o salto necessário para tomar as rédeas de sua própria cidadania.
Aos que são gestores independentes de suas vidas, parabéns! Sucesso!
Aos que não conseguem gerir suas vidas, o Estado precisa cuidar deles, pois não se perde cidadania por se reprovar em provas, como em uma competição.
Aos “nem-nem” aos quais faltam oportunidades objetivas e trabalho intenso de cooptação, capacitação, estímulo, ambiente e direcionamento, eis aí o grande trabalho da gestão pública que precisa criar projetos eficazes e transparentes, permanentes e consistentes, práticos e de grande capilaridade, para garantir um acesso robusto e competente à cidadania que é direito de todos e dever do Estado.
Conclusão: nossos canhestros julgamentos morais; nossos discursos de meritocracia; nossa egolatria carente de autoelogios constituem poderosos entraves à consolidação da democracia. Preferimos, muitos de nós, condenar esses milhões de jovens apontando o dedo para a inapetência deles – e, por extensão, lembrando nossa competência – e depois clamar às forças policiais que reprimam, reprimam, reprimam.
É hora de assumirmos de vez as necessidades e obrigações do Estado Democrático de Direito. Ou distribuir tacapes aos tacanhos.
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