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POLÍCIA PARA QUEM QUER POLÍCIA. EU QUERO EDUCAÇÃO E DEMOCRACIA!
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tn_620_600_militareshomenagemHá pouco tempo, reportagem da Gazeta do Povo deixou todo mundo estarrecido. Falta tudo no aparato de investigação e repressão policial da nossa cidade, estado, país. A folia dos que pisam fora da linha da legalidade é farta de impunidade, tanto que a linha está gasta e quase invisível, por isso quem pisa já ninguém sabe se é ladrão ou quem persegue o ladrão. E aí reside um problemão: Quem deve ser a caça e o caçador?
Enquanto isso ficamos nós em nossa imutável indignação. Queremos justiça, refestelados no sofá gasto de nossa sala de casa de condomínio ou prédio cheio de câmeras e porteiros 24 horas. Queremos punição, nadando de braçada na inconsistência de nossas posições políticas e amnésias eleitorais, porque achamos que política “é tudo igual”. Queremos um Brasil novo, sem nos apercebermos que “Brasil Novo” é velho chavão de passadistas e vivandeiras. Não sabemos ou nos dá preguiça de saber que o querer que vira fato, sólida realidade, precisa mais do que vontade. Precisa de um pouco de esforço e um tanto de persistência. Mas precisa, principalmente, de exemplo para não virar rua de mão única.
Não faz sentido querer o respeito à inviolabilidade do meu lar e assistir, tranquilo, milhões de pessoas vivendo nas áreas de risco, sem segurança e serviço básico, sem escola e sem hospital. O direito de estas pessoas obedecerem a lei está intimamente associado ao dever de o Estado dar a elas um motivo para acatarem as regras do Estado. Quando falta água ou luz em nossa casa, sabemos o quanto é enervante uma prestação de serviço público deficiente. Imaginem o que pensam os que não têm água e luz em suas casas?
Não faz sentido exigir que ninguém furte ou vandalize ou achincalhe ou ameace se sou conivente calado e satisfeito com serviços públicos que submetem milhões de brasileiros a estes crimes diariamente, reincidentemente, implacavelmente, sem investigação, denúncia, julgamento e punição. Eu não aceito o que o Estado faz com o dinheiro dos meus impostos, mesmo tendo rua asfaltada e poste com luz em frente de casa, posto de saúde na esquina ( que eu não uso) e escola pública por perto ( que meu filho não frequenta). Eu não aceito, mas estou pensando em mim. Só em mim. Os outros são uns estranhos e a carência deles não me diz respeito e quando vejo cidadãos furtando, vandalizando, acho um absurdo e quero que a polícia reprima e garanta a segurança…para mim.
Não posso exigir discernimento e moderação para quem vive imerso no mar de indiferença e aviltamento das mais básicas condições garantidas por leis constitucionais e ordinárias mas nunca respeitadas, solenemente ignoradas, como se a condição da escravidão, do mandonismo, da ditadura nunca tivesse sido exorcizada e pairasse no ombro dos mandatários soprando ordens e comandos, com sorrisos de dentes afiados e de cheiro azedo.
A crise da segurança pública é apenas um dos reflexos do espelho quebrado da democracia brasileira. Uma democracia que não é só partida pela apropriação descarada dos dinheiros da tributação pantagruélica mas, principalmente, pela falta de uma educação democrática que nunca começou, malgrado o esforço de poucos querubins de asas atrofiadas. Temos um Estado por fiar, tecer, coser, fazer virar tecido de tramas apertadas. A linha está lá, nos artigos 5 e 6 da Constituição Federal, sofrendo, envergonhada e desiludida, com tanta falta de atenção.
Nos hospitais, faltam médicos, remédios e leitos; Nas escolas, faltam professores , currículo e, cada vez mais, alunos; Na polícia, investigação, equipamentos, formação adequada.
E em cada um de nós, falta a indignação cívica necessária. Não para defender só o nosso pirão – com olhos raiados de medo e fúria – mas para lutar por mais angu para todos. A minha segurança e a minha felicidade para usufruir dos frutos do meu trabalho exigem que eu desista de pensar o meu contexto como “eu”. Não há saída fora do “nós”. Ou nos educamos para a democracia e lutamos juntos por um Estado que cumpra sua parte no contrato ou logo, logo, a horda vai bater no nosso mundinho privado. E não haverá polícia para investigar o que aconteceu.

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