Como impedir um professor de dar opinião na sala de aula? Simples. Basta que ele fundamente seus argumentos. Os alunos, assim, aprenderão que há uma diferença essencial entre argumento e opinião.
Eu opino quando me perguntam se o Brasil será campeão do mundo. Eu opino se me perguntam como terminará a série Games of Thrones. Eu opino quando me perguntam se uma pessoa é bonita.
Eu argumento quando perguntam se o Brasil poderia ter organizado uma Copa mais eficaz. Eu argumento quando me perguntam se os pais devem bater em seus filhos. Eu argumento quando me perguntam se o Marco civil da internet é uma lei que contribui para a democracia.
Argumentar é expor fundamentos de suas afirmações. E esses fundamentos provem de fontes legais, legítimas e reconhecidas. Muita gente acha que fundamentar é dizer “li em um livro, vi um filme, um jornalista publicou, etc”. Fundamentar é esclarecer ( tornar claro!) de onde vem aquilo que você afirma.
O papel de argumentar é abrir-se para o debate. Não importa a extensão de suas fontes nem o reconhecimento e a legitimidade deles. A natureza dos argumentos é a sua possibilidade de refutação. Sem isso não há diálogo, mas fé.
A refutação, igualmente, exige esse rigor. Sem rigor, o debate vira conversa de botequim.
Consideração básica e evidente ( a evidência, segundo Descartes, é a afirmação tão clara e distinta para a razão que não carece de demonstração): sala de aula não é botequim!
Professores que esquecem que seu compromisso com os jovens é ensina-los a pensar criticamente, contribuindo, entre outras coisas, para o aprendizado das práticas da argumentação, tornam-se uns chatos. Chatos por acharem que suas opiniões podem substituir a formação. Chatos por acreditarem que usar o tempo da aula para expor suas opiniões sem fundamenta-las adequadamente é um direito do professor. Outra evidência: não é um direito do professor!
Uso a palavra chato para não ser chato e chamar esse tipo de professor de irresponsável e mau caráter. Isso seria agressivo. Mas, garanto, eu teria muitos argumentos para fundamentar minhas afirmações.