Sou professor há trinta anos. Gosto da minha profissão. Sou valorizado e tenho uma remuneração digna. Tenho condições adequadas de trabalho. Tenho plano de saúde empresarial e programa de participação nos lucros. Não há excessos burocráticos nem reuniões em demasia, pedidos desnecessários ou quinquilharias que entopem o calendário e não contribuem para o aprendizado na minha escola. Aliás, se fosse para resumir, eu diria que o lugar no qual eu exerço minha função de professor tem um trabalho focado no aprendizado. E aprendizado quer dizer professores bem formados, com experiência e valorizados, social e financeiramente.

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Isso devia  ocorrer em todas as escolas do país. Simples assim. Mas os governos da federação alegam, alegam, alegam, não vou listar mais uma vez todo o blábláblá que considero um crime de lesa futuro da pátria, e não fazem isso. Professores não têm um currículo mínimo sobre o qual  balizar suas aulas, não têm ambiente adequado para trocar ideias e experiências de aula, não têm formação continuada em como dar melhores aulas e como contribuir para o melhor aprendizado dos seus alunos, não têm remuneração digna para se sentirem recompensados por seu trabalho e formação, não têm, enfim, um perfil  profissional que permita aos jovens brasileiros olharem para eles e dizerem: “Puxa, gostaria muito de ser como eles!”

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Ora, ora, estaria eu generalizando? Afinal há várias boas iniciativas por aí. Há, mas é pouco. Precisa mais, muito mais, como se fosse uma emergência e, como dizia minha mãe, precisássemos tirar o nosso pai da forca.

Por que um aluno  ou aluna quer ser advogado, quer se médico, quer ser engenheiro, quer ser publicitário, quer ser arquiteto, quer ser economista, etc e etc? E por que tão poucos querem ser professores do ensino básico e dos que querem, a regra é que sejam os alunos com pior rendimento no ensino médio e desses, poucos se formam e os que optam pelas licenciaturas das áreas de exatas e  biológicas são os que mais desistem antes do fim do curso?

Porque –  e os docentes que me leem sabem disso –  para ser professor, é preciso ser um profissional de muita qualidade! Um professor deve saber ser competente em todas as variantes das inteligências já mapeadas. Deve ter erudição e sabedoria, comunicação e postura, bom humor e seriedade, prudência e decidibilidade. Uma das profissões mais complicadas que existem, exigindo uma exposição muitas vezes diárias com crianças e jovens de condições sociais heterogêneas, plurais sob todos os aspectos, o que demanda um cuidado constante com a linguagem, postura e até mesmo a roupa que usa!

Bom, senhores leitores  e leitoras: É por isso que há um déficit de 170 mil professores na Educação básica brasileira. Simples assim.

Mas agora o governo federal se sai com essa novidade, vejam só. Quer oferecer uma bolsa de 150 reais para alunos e alunas do ensino médio para que eles ou elas aceitem estudar mais as áreas de exatas e biológicas e tenham, para isso, o auxílio de um professor tutor ( cujo valor o governo ainda não calculou qual será). O governo pretende oferecer 30 mil dessas bolsas e promete chegar a 100 mil.

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É assim que o governo quer resolver o problema do déficit dos professores? Com uma bolsa “faça o que você deveria estar fazendo de graça” para estudantes e uma esmola a mais para professores a guisa de  “dá uma forcinha que eu te garanto algum por fora”?

Vou deixar clara minha posição. Isso é vergonhoso! Um acinte! Um tapa na cara de uma geração de professores que já faz o melhor que pode, menos convencer jovens alunos e alunas a quererem seguir a carreira deles ou delas, porque É MUITO MAL REMUNERADA!

Senhor Ministro, se as ideias são curtas, mais respeito, por favor!