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Todos os alunos são portadores de necessidades especiais:

Uns mais , outros menos. Uns exigem acompanhamento de médico, fisioterapeuta, psicólogo, tutor, alguns até de advogados. Mas ir para a escola é a prova de que todas as crianças possuem uma necessidade especial: aprender. E o aprendizado é o que tem faltado, a se considerar todos os indicadores, nacionais e internacionais, governamentais e de entidades do terceiro setor ou de quem quer que tenha capacidade de observação. Fala-se muito em sistema de ensino, mas o que falta mesmo é um sistema de aprendizado, focado no que o aluno é capaz de apreender e passar a chamar de seu. E é lógico que esse aprendizado é singular, sendo mais amplo e rápido para uns e mais estreito e demorado para outros. O que aliás é uma prato cheio para outra coisa que costuma faltar nas escolas: colaboracionismo. Um atividade em sala é estabelecida por uma professora. Alguns alunos certamente sairão “na frente” e outros apresentarão dificuldades. O aprendizado é singular, repito. Uma educação para o aprendizado leva em consideração que toda atividade em sala de aula é um mapa para festas. Festa da discussão, do planejamento comum, da troca e impressões sobre a atividade, das estratégias compartilhadas, da ajuda paciente e persistente para os que apresentam maiores dificuldades e, enfim, um resultado que é o aprendizado comum, embora matizado pelas condições de maior ou menor discernimento cognitivo. Mas sem perdedores. Sem vencedores. Como lembra o mestre Rubem Alves, um jogo de frescobol: a alegria é sempre dos dois jogadores e nunca de um só.

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Aprender é, sem dúvida, apropriar-se de um certo conhecimento e passar a dispor desse conhecimento para solucionar problemas novos, que a vida apresenta. Conhecimento da escola que só serve para a escola não é conhecimento. Há, evidentemente, mediações necessárias para ir ampliando o aprendizado, que passam por categorias como a leitura, a identificação, a relação, a inferência, a interpretação, a formulação de juízos, etc., e  o professor oferece repertórios para esse aprendizado. Uma criança poderá se tornar mais ou menos proficiente e o papel da escola é sempre estimular a ascese de aprendizado, com persistência mas gentileza, pois não há uma linha de chegada . Não é uma competição. A escola é  um ambiente que colabora para um projeto de vida e um projeto de mundo. As crianças, sujeitos dotados de personalidade e conhecimentos que vão para a escola para participar desse projeto. Não fosse necessária essa interação e esse ambiente, não precisaria ter escola.

Resumo da ópera: quando se falar em nota, reprovação, conselho de classe, conteúdos a serem vencidos, alunos problemas, dificuldade de inclusão, saibam, não é da escola que se está falando, mas de uma outra coisa que leva esse nome indevidamente. Escola é construção de espaço público e de aprendizado de projeto de vida e de mundo. É ambiente político, no bom termo da palavra. E de radical opção pelo Outro, esse ser singular e dotado de necessidades especiais que desafiam os adultos e estimulam suas habilidades para atende-las da melhor maneira possível. Assim como o país, o homem não foi feito para a lei, mas a lei foi feita para o homem. O aluno não se insere mecanicamente na  escola , ela é que deve ser elaborada, criada, desenvolvida, para atender ao aprendizado do aluno. Assim como a nota, o diário de classe, a aula preparada, a divisão por idade, a formação do professor, a avaliação, a recuperação, a conversa com os pais, a preparação dos funcionários, et coetera.

As aulas já estão começando e, com elas, o pânico de que nada disso seja lembrado e exercido. E então, pobres das crianças e suas necessidades especiais. Pobres de todos nós.

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