Acompanhando o que acontece no Rio de Janeiro com os professores, particularmente as imagens da polícia batendo nos professores, penso que levaremos muito tempo para superar a indignidade dessa situação.
Sabemos que somos um país que não respeita a dignidade humana, apesar de a Constituição, que fará essa semana 25 anos, estabelecer o princípio da dignidade humana como limite e tradução da ação do Estado. Mas não adianta nada. Há uma cultura de desrespeito e de descaso que está nas práticas cotidianas das autoridades que parece não ter volta. Pessoas são presas sem defesa adequada, pessoas são agredidas sem qualquer justificativa legal, pessoas são abandonadas nas filas de atendimento público sem qualquer explicação ou solução para a indiferença com a qual são tratadas.
Mas parece-me que tudo isso atinge um patamar do intolerável quando a polícia bate nos professores. É como bater na mãe que ensinou as primeiras letras, no padre que cuida da paróquia, na velhinha que vende frutas na feira do bairro, no cadeirante que tenta atravessar a rua, no cego, no papa. Sei lá, pensem em algo intolerável. E pensem na polícia batendo em professores.
Somos pessoas no mundo e produzimos marcas nesse mundo. O tempo passa, temos filhos e queremos passar para esses filhos a esperança de um mundo melhor que o nosso. Não pode ser diferente. Não faz sentido imaginar que queiramos que as novas gerações sejam piores do que somos. E por isso há a escola, esse espaço público no qual reside a última esperança da cidadania, de uma formação voltada para um futuro menos sombrio do que o que construímos, nós, com nossa incompetência e nossa insensatez.
Mas então ligamos a TV e vemos a polícia batendo nos professores. Como esses professores darão aula amanhã? Como eles olharão as crianças e jovens e como dirão para elas que elas precisam ser bons cidadãos? Como cobrar delas respeito às leis e às autoridades e, principalmente, respeito aos valores democráticos? Uma democracia que manda a polícia bater em professores?