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Entrelinhas

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Notas sobre política, economia e variedades. Edição: Jônatas Dias Lima (jonatasl@gazetadopovo.com.br)

Entrevista: Italo Marsili fala sobre a nova faculdade, Olavo e a parceria com ministros do STF

(Foto: Divulgação)

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Italo Marsili é, provavelmente, o maior influenciador ativo em ambientes conservadores no Brasil, mas a verdade é que a extensão de seus empreendimentos já dificulta a comparação com simples youtubers. O recente anúncio de inauguração de sua nova faculdade no Rio de Janeiro, a Mar Atlântico, cujo curso de direito terá participação de oito ministros de tribunais superiores, incluindo dois do Supremo Tribunal Federal (STF), foi chocante tanto para seus seguidores quanto para seus desafetos. A grande repercussão do anúncio nas redes sociais foi o estopim para a entrevista que segue, feita com exclusividade pela coluna Entrelinhas, da Gazeta do Povo, e na qual o próprio Italo responde sobre a polêmica que envolve acusações de traição, o STF, o apreço à universidade e Olavo de Carvalho.

O senhor ganhou fama nacional com seus cursos online e parece muito bem-sucedido nesse ramo. Por que investir numa faculdade agora?

Realmente, ao longo desses cinco anos de docência e influência utilizando a internet, cheguei a formar mais de cento e cinquenta mil pessoas com apenas um dos meus cursos, o Guerrilha Way. Há vários outros também e para colocar tudo de pé, sustentando a atividade ao longo do tempo, melhorando em qualidade e em atenção aos alunos, foi necessário montar uma equipe sólida que hoje passa de duzentos colaboradores trabalhando no nosso escritório físico com sede no Rio de Janeiro.

Diante deste vasto cenário e das atividades já desempenhadas, pareceu um passo natural e necessário formalizar o que já fazíamos. Eu mesmo nunca estive à margem do ensino superior. Entrei para a faculdade com dezesseis anos, no curso de medicina na UFRJ, depois fiz minha residência médica em psiquiatria na mesma instituição e sempre participei de simpósios, congressos e outros eventos acadêmicos, seja como participante, palestrante ou organizador. Eu quero o mesmo para os meus alunos e seguidores: que não estejam à margem da academia, que não fujam das discussões científicas do nosso tempo, que participem ativamente aprendendo e propondo, refletindo e questionando, estudando e publicando.

Enfim, considero inegável a importância de uma formação acadêmica sistemática e completa para a consolidação das competências humanas e profissionais requeridas pelo mercado de trabalho e pelos clientes. Por isso tudo, dei esse passo importante e audacioso: fundei a Faculdade Mar Atlântico, que é uma instituição de ensino superior que já nasce grande, e fiz isso porque é necessário, porque temos uma visão clara do que é a educação superior, porque desenvolvemos uma história consolidada no mercado de ensino e porque o Brasil precisa de centros de ensino com espírito verdadeiramente universitário.

Nos meios conservadores e de direita, o anúncio da faculdade gerou alguma surpresa. Esperança em alguns e revolta em outros, sobretudo por causa da relação com ministros do STF. Nos vídeos de anúncio nós vemos os ministros Luiz Fux e André Mendonça, mas também é sabido que o sobrinho do ex-ministro Marco Aurélio está envolvido, certo? Gostaríamos que nos contasse qual será a participação deles e por que razão os procurou para a iniciativa?

O nosso corpo docente é um grande motivo de orgulho para mim. É possível imaginar a alegria com que recebi a confirmação de oito ministros de tribunais superiores, não apenas do STF, para integrar o grupo de professores. A pós-graduação é uma oportunidade para consolidar e aprofundar conhecimentos recebidos na graduação e para ter contato com as personalidades mais influentes da área de estudo escolhida. Tenho certeza de que os mais de mil alunos matriculados em menos de uma semana reconhecem o privilégio que é poder ter acesso a essas personalidades.

Todos receberam com entusiasmo a notícia da fundação do ICJUR, este entusiasmo pode ser percebido assistindo-se às aulas que eles prontamente gravaram para nós e sou grato por isso.

Não foram apenas os ministros, no entanto, que responderam com prontidão, entusiasmo e compromisso: desembargadores, juízes, procuradores, defensores, juristas em geral, delegados e agente de governo, além de advogados dos escritórios mais prestigiosos do Brasil, todos gravaram aulas de forma muito generosa e didática.

Como o senhor tem respondido àqueles que consideram essa aproximação com ministros do STF uma traição aos seus seguidores, já que o STF é visto por muitos como um inimigo da direita no Brasil?

O que seria uma traição? Montar uma faculdade com professores influentes e prestigiosos? Empregar mais de duzentos colaboradores ou trabalhar mais de quatorze horas por dia para que as nossas ações sociais, que beneficiam milhares de pessoas e famílias desassistidas, cresçam ainda mais? Colocar no mapa da produção científica os nossos grupos de pesquisa internacional? Fazer filmes e documentários com valores para que nossa audiência seja edificada? Investir em tecnologia para desenvolver melhores ambientes de aprendizado? Jamais falar mal do Papa ou da Igreja? O que seria uma traição?

Quem quiser me considerar um traidor, que considere. É impossível agradar a todos. Não se esqueça de que eu sou psiquiatra e não confundo demandas pertinentes e críticas justas com sintomas grotescos.

É bastante conhecido que o senhor foi aluno de Olavo de Carvalho, que era bastante crítico ao sistema universitário, em geral, e muito mais ao STF. Pode-se considerar que a opção que fez é, de certa forma, um afastamento daquilo que seu antigo professor defendia? 

Interessante. Estive com o professor Olavo em 2008 por quarenta e cinco dias; depois, por mais duas vezes, uma no mesmo ano, para assistir a um curso de metafísica, no qual estavam dezenas de outros alunos e depois em 2014, por menos de uma semana. Nestes intervalos e até o dia da sua morte, não o perturbei uma única vez, nem por ligação, nem por mensagem de texto - pergunte à minha querida Roxane, viúva do Olavo. Sempre respeitei muito o tempo e a intimidade do professor, como costumo fazer com todos. Tente encontrar uma única Live que fiz com ele, por iniciativa minha, ou uma única vez em que tenha usado o nome dele para me promover. Você não encontrará, porque, como disse, sempre o respeitei. Acreditava e acreditei até o último dia da sua vida, que se houvesse algo tão importante a ponto de desviar a atenção dele para mim, o mínimo que eu deveria fazer era juntar dinheiro e tempo e pegar um avião até a Virginia/EUA para estar pessoalmente com ele, caso pudesse me receber.

Quem quiser me considerar um traidor, que considere. É impossível agradar a todos

Vou te dar um outro exemplo prático. Tenho atualmente seis livros publicados, alguns são best-sellers e nenhum deles trata de temas abordados pelo Olavo. Fiz assim por respeito e para não haver a mínima hipótese de parecer que eu estava levando vantagem em um terreno aberto por ele. De todos os cursos que ofereci até hoje, apenas um trata de assunto explorado e descoberto por ele: o curso das doze camadas - tive ainda a cautela de chamar diversos alunos do Olavo para darem as aulas do curso comigo, para que não parecesse ser assunto meu, ou coisa que se assemelhasse a um gênero de "herança natural". Aliás, não sou herdeiro do Olavo. Há aqueles que detém seus direitos autorais e seus filhos, dos quais alguns desenvolvem também atividade intelectual. Sou um aluno, dentre dezenas de milhares. Sou grato, como sempre fui, mas sempre soube o meu lugar.

Veja, há três anos, fundei um curso de graduação de Filosofia, aprovado pelo MEC e que foi agraciado com nota máxima pelos avaliadores do governo, a Academia Atlântico, que conta hoje com mais de mil alunos ativos. Este curso foi fundado ainda em vida do Olavo e não consta que ele tenha dito qualquer coisa contra. Portanto, é lamentável, de verdade, a tentativa de associar o Olavo aos meus atos, pois se em vida não o aporrinhei pedindo validação para o que fiz ou deixei de fazer, quanto mais o farei agora. Deixem-no em paz e respeitem a memória de nossos mortos que já gozam da visão beatífica de Deus.

Apesar dos críticos, entre os seus defensores, há quem diga que por detrás da abertura da faculdade há a estratégia de ocupação de espaços por parte da direita em ambientes que esse espectro político ainda não domina, como o mundo jurídico. Essa interpretação está correta?

Não, não está. Esta interpretação implica assumirmos que eu sou a “direita”. Não sou. Há diversos grupos que reclamam este título e creio estarem fazendo algo pela direita, como outros estão fazendo pela esquerda, inclusive fundando partidos políticos novos, não é? Tenho minhas convicções políticas particulares e distintas do que circula hoje como discussão no mainstream. Não ataco ninguém que esteja honestamente trabalhando nestes campos, mas eu estou fazendo outra coisa.

Sou grato [ao Olavo], como sempre fui, mas sempre soube o meu lugar

A senhora, por exemplo, usa uma dicotomia perigosa: “críticos” vs. “defensores”. Não tenho, no entanto, críticos. Há algumas pessoas que utilizam figuras públicas para se autopromoverem, foi o que vimos recentemente nos ataques contra mim. Não houve uma única crítica, sequer. Houve uma agitação de alguns blogueiros já esquecidos, para que gerassem audiência, através de uma autopromoção, com a finalidade de venderem revistas, assinaturas, etc. Não houve, como disse, nenhuma crítica, nem consistente nem inconsistente; houve um pequeno barulho e confusão, como de costume nestes ambientes - esta vida vivida na base das dicotomias, do "nós contra eles” é perversa e triste, é improdutiva e fantasiosa.

Por outro lado, a senhora diz que meus “defensores” advogam que eu seja a "direita ocupando espaço". Não me parece, sinceramente, que meus empreendimentos, especialmente a abertura de uma faculdade - atividade tão antiga e tão natural em nosso meio -, necessitem de "defesas". Além disso, nenhum aluno meu, nenhum seguidor meu disse qualquer coisa semelhante - pode procurar.

Ao contrário do que se imagina, não enveredo por rasas compreensões políticas ou ideológicas. Minha motivação é bem mais simples, e por isso mais complexa num mundo de dicotomias: ensinar cada um dos meus milhares de alunos, em suas circunstâncias quotidianas, a amar o mundo apaixonadamente.

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Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

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