O senador Sérgio Moro (União - PR) se posicionou sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à Lava Jato nos últimos anos, em entrevista exclusiva ao programa e à coluna Entrelinhas. Para ele, o trabalho da operação foi crucial para expor e combater a corrupção no Brasil, mas a reação política contra ela tem minado seus resultados. Moro afirmou que os processos envolvendo réus da Lava Jato, como o caso do ex-ministro de Lula e Dilma Antonio Palocci, anulado na semana passada pelo ministro do STF Dias Toffoli, são exemplos de como a impunidade voltou a prevalecer.
"A Lava Jato foi um marco, um divisor de águas. Durante os anos em que estive à frente dela, os julgamentos eram sólidos, as provas robustas, e ninguém com boa consciência pode negar que a Petrobras e outras estatais foram saqueadas durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT)", analisou o ex-juiz da operação. De acordo com ele, os esquemas de corrupção eram orquestrados por diretores de estatais, que, nomeados por figuras políticas, se enriqueceram pessoalmente e financiaram partidos e campanhas eleitorais.
"Desmonte" do combate à corrupção
Para o congressista, os ministros do STF têm realizado um "revisionismo" que prejudica a justiça e enfraquece o combate à corrupção no Brasil. "Eu não sei qual a competência judicial para reverter essas decisões. Como ex-juiz, não vejo fundamento jurídico para esse tipo de decisão. Essa revisão de processos em primeira instância é um desastre para o Brasil. Não só pela injustiça nos casos individuais, mas também pela mensagem de impunidade que ela passa para a sociedade", pontuou.
Além disso, Moro fez críticas ao ambiente político criado após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República. Para ele, o novo governo tem promovido um desmonte do combate à corrupção, criando um clima hostil para os agentes da lei. "Hoje, quem atua na lei - delegado da Polícia Federal, juiz ou procurador - tem medo de se envolver em casos de corrupção. É o recado que o governo Lula manda: quem faz seu trabalho será perseguido", disse o senador. Dessa forma, ele relembrou casos de perseguições contra figuras que foram essenciais no combate à corrupção, como o juiz Marcelo Bretas e os desembargadores do TRF da 4ª Região.
Abusos e erros na denúncia contra Bolsonaro e a delação de Mauro Cid
Em outro momento da entrevista, o ex-juiz se debruçou sobre o processo envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e as recentes acusações feitas pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Para Moro, não é justo comparar as denúncias contra Bolsonaro com os casos da Lava Jato, que, segundo ele, tinham provas substanciais. "Não tem comparação possível entre a Lava Jato e esses processos. A Lava Jato lidava com provas documentais robustas, como depósitos milionários e confissões. Já nesse caso, estamos vendo um processo muito mais político do que jurídico", avaliou.
Moro criticou a politização da denúncia e também a delação de Mauro Cid, central em muitas das acusações contra Bolsonaro. Ele defendeu que, embora seja necessário julgar o ex-presidente, é preciso conduzir o processo com imparcialidade e base em evidências concretas, sem o viés político que, segundo ele, caracteriza a ação do STF. "Os acusados devem ter direito a um julgamento justo. O melhor caminho seria remeter o caso para a primeira instância, onde o julgamento seria técnico, sem toda a politização que vemos hoje", declarou.
Sobre a questão do foro privilegiado, Moro acredita que a recente mudança de entendimento do STF – que manteve o caso de Bolsonaro na Suprema Corte mesmo após o término de seu mandato – foi uma decisão "de ocasião", sem fundamento jurídico claro. Para o senador, a decisão do STF apenas politiza ainda mais o processo. "O Supremo tem jurisprudência consolidada sobre a perda do foro após o fim do mandato. Essa mudança de entendimento não é legal, é política. E isso prejudica a credibilidade das decisões", disse.
Anistia para os manifestantes de 8 de janeiro
Moro ainda comentou sobre seu posicionamento em relação aos manifestantes presos após os atos de 8 de janeiro. O senador expressou um compromisso claro de que votará a favor de propostas de anistia para esses manifestantes. "Eu acredito que essas pessoas já pagaram mais do que deviam. As penas aplicadas a elas foram desproporcionais. Não faz sentido continuar com esse sofrimento. Se um projeto de anistia for colocado, vou votar a favor", garantiu Moro. O senador defendeu que o sistema de justiça deve agir "com humanidade", especialmente quando as penas aplicadas são excessivas.
Ele também fez uma reflexão sobre o uso político das prisões de 8 de janeiro, comparando com os excessos cometidos durante a ditadura militar de 1964. "Não podemos usar o sofrimento de hoje como uma revanche política. A tortura e os excessos do passado não podem ser descontados em pessoas como a dona Fátima de Tubarão, que foi presa e condenada a 17 anos por um ato de vandalismo", disse.
Moro enfatizou que as pessoas envolvidas nos atos de 8 de janeiro cometeram um erro. No entanto, segundo o ex-juiz, é incorreto justificar uma punição desproporcional com base em uma visão política sobre o futuro, como as eleições de 2026. Além disso, Moro reforçou a importância da separação entre o julgamento de atos isolados e o contexto político. "A punição deve ser baseada nos fatos, não em questões políticas futuras. A democracia precisa ser respeitada, mas o devido processo legal também deve ser seguido", concluiu o senador.
Moro, por fim, fez um apelo por mudanças no sistema de justiça brasileiro. Ele defendeu, entre outras coisas, o fim do foro privilegiado e a busca por mais imparcialidade no tratamento dos casos políticos. "A justiça tem que ser para todos, sem exceção", concluiu.
Com “puxadinhos” no Orçamento, governo Lula legaliza fracasso do arcabouço fiscal
Alexandre de Moraes procurou presidente do Banco Central para pedir pelo Banco Master
Campanha da Havaianas com Fernanda Torres leva chinelada de políticos e consumidores de direita
Próximo alvo? As semelhanças e diferenças nas ofensivas de Trump contra Maduro e Petro