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O deputado federal Ricardo Salles (Novo-SP) chamou atenção para os números da pesquisa Datafolha sobre a adesão dos partidos da oposição às pautas do governo Lula, destacando a postura independente do Novo. Segundo os dados, o Novo votou apenas 1% das vezes com o governo, enquanto o PL, seu antigo partido, apresentou um índice de 8,5%. Em entrevista exclusiva à coluna Entrelinhas, Salles apontou as razões por trás dessa diferença e defendeu maior clareza na postura da oposição.
“Parte do PL é composta por políticos da velha política, que têm cargos no governo e nas estatais, muitas emendas e outros favores governamentais. Em troca, acabam votando com o governo Lula”, afirmou o parlamentar. Ele também destacou que o site Placar Congresso, criado pelo deputado federal Maurício Marcon (Podemos-RS), tem sido um importante instrumento para medir o alinhamento de cada parlamentar às pautas governistas. “Seria importante dar mais publicidade a isso”, sugeriu Salles. O site já havia sido tema de reportagem na Gazeta do Povo em 2023, quando detalhou os índices de governismo de deputados e senadores.
Questionado sobre a maior divergência do PSDB e do Cidadania em relação ao governo, em vista do chamado “teatro das tesouras” entre PT e PSDB, e o fato de o partido Cidadania ter sido criado após uma cisão dentro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Salles foi direto: “PSDB e Cidadania ficaram pequenos demais, sem poder de barganhar cargos e verbas”. O comentário faz referência ao esvaziamento dessas legendas, que, por não integrarem a base governista nem terem força política para negociar com o Planalto, mantêm uma postura mais crítica nas votações.
A pesquisa mencionada por Salles reforça um padrão observado no Congresso Nacional: a crescente dependência do Executivo em relação aos votos da oposição para aprovar pautas prioritárias. Nos dois primeiros anos do governo Lula (2023-2024), partidos da oposição, como PL, Republicanos e PP, contribuíram significativamente para a aprovação de pautas importantes no Congresso. Esse tipo de articulação é chamado de “presidencialismo de coalizão”. No caso de Lula, partidos como o PP seguiram a orientação do governo em cerca de 10% das votações, enquanto Republicanos e PL, apesar de manterem cargos ministeriais, tiveram índices de apoio de 9% e 8,5%, respectivamente.
O estudo trazido pelo parlamentar ainda destaca que, se o governo dependesse apenas dos partidos da base formal, a taxa de sucesso nas votações cairia de 92% para 66%. A fragmentação partidária e a crescente complexidade nas negociações explicariam esse fenômeno, como no caso do apoio dado pela oposição para aprovar matérias estruturais, como a reforma tributária e da Previdência.