Em 1959, uma sessão de A Casa dos Maus Espíritos (House on Haunted Hill), de Willian Castle, vinha com uma surpresa: um esqueleto em tamanho real, que circulava pelos cinemas simulando uma cena que passava na telona. O diretor, conhecido pela criatividade em suas obras de horror, tentava quebrar a quarta parede, que separa os personagens do filme do público, aproximando-os com truques, que na época recebia o nome de gimmicks.
Castle era tão bom em promover seus filmes com esses artifícios que, em um de seus primeiros longas-metragens, Macabro (Macabre, 1958), criou uma apólice de seguro aos espectadores que, por ventura, viessem a morrer de medo durante a sessão. Em Força Diabólica (The Tingler, 1959), ele inventou um mecanismo chamado “Percepto”, que vibrava as poltronas em momentos de tensão.
Para A Casa dos Maus Espíritos, o gimmick bolado foi um esqueleto pendurado que se chamava “Emergo”. No fundo, o cineasta não precisava dessa estratégia para assustar seu público. O filme era assustador o suficiente para dar conta do recado sem truque algum.
A começar pela tela preta com sons de gritos e ranger de portas que abre o filme, remetendo a trens fantasmas baratos de parques de diversão. A tela escura ambienta o público no clima sombrio. Logo em seguida surge o rosto assustado do personagem Watson Pritchard (Elisha Cook Jr.) nos avisando para não adentrar na casa da colina assombrada. Sete pessoas já morreram lá.
A cena traz uma das marcas da filmografia de Castle: o diálogo com o espectador. Após o alerta de Pritchard, surge Vincent Price, como Frederick Loren, explicando a trama do filme. Um milionário, vivido pelo próprio ator, decide comemorar o aniversário da esposa levando quatro desconhecidos a uma casa mal assombrada. Suas motivações são obscuras, mas para atrair os desejados, ele oferece dez mil dólares a quem chegar vivo ao fim da noite.
Um travelling nos conduz para dentro da mansão. Uma vez lá, truques de câmera, surpresas no escuro, monstros que não são vistos e diálogos ambíguos nos fazem grudar na cadeira, experimentando sustos que ainda hoje são bem eficientes (tente ver a cena da velha cega no porão da casa sem sentir calafrios na espinha).
No filme, Castle tenta provar que o público se encanta e se fascina com a experiência do medo. O realismo não lhe interessa. Os limites da fantasia escondem-se, pois a ameaça nunca é vista pelos personagens – embora seja bem real. A situação remete ao clima de tensão criado por Steven Spielberg em Tubarão (Jaws, 1975), em que não se mostrava o peixe gigante, mas todos sabiam que estava por lá.
Esse tom de ameaça invisível da obra transforma a cena do esqueleto em uma bela contradição. Como pode um fantasma material (e falsamente produzido – pois dá para ver as cordinhas) existir em um filme tão ambíguo? O final da trama explica, mas não vou contar qual é para não estragar surpresas.
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A Casa dos Maus Espíritos foi refilmado em 1999. A versão nacional recebeu o nome de A Casa da Colina, uma obra que, apesar de eficiente, muda significativamente o enredo bolado por Castle.