O seriado The Walking Dead é, possivelmente, o produto cultural que melhor adapta o clima distópico dos filmes de George Romero. Isso porque não traz falsas ilusões ao público, muito menos acredita/propõe uma sociedade possível no meio do apocalipse zumbi.
Quando Romero lançou seu segundo filme sobre o tema, Despertar dos Mortos (1975), sua crítica à sociedade americana foi aprofundada. Além de serem mais selvagens que os mortos (por criarem jogos sádicos e matarem por esporte), os vivos também eram fúteis e pouco confiáveis.
O grupo que se refugia num shopping center, na obra do diretor, passa boa parte da trama comprando e se divertindo com as atrações do local. “A vida perfeita”, caracteriza um deles, que parece ignorar que o mundo acabou do lado de fora das paredes.
A cena foi uma referência clara do quadrinista Robert Kirkman, quando optou por ambientar a trama num presídio nas HQs que inspiraram a série. O local era uma fortaleza blindada dos perigos do lado de fora das cercas. Quase perfeito.
Na televisão, no entanto, esse clima de segurança obtido com a conquista da prisão não é tão evidente quanto nos quadrinhos. Até porque o seriado vinha de uma segunda temporada bem sonolenta para passar o ano seguinte mostrando as técnicas de plantação de Hershel (Scott Wilson).
As grandes semelhanças entre os vivos de Kirkman e os de Romero estão no comportamento. O Governador (David Morrissey) e os motoqueiros de Despertar dos Mortos são bons exemplos. Predadores, invejosos e violentos, esses personagens são a representação da bárbarie, a pior parte dos humanos.
Talvez, a grande mensagem dessas narrativas seja: deixe a Terra para os mortos, pois eles se respeitam. Não é preciso interpretar muito para descobrir que isso é um discurso sobre nós mesmos.