Um monstro é uma distorção do homem. Autores como Noel Carroll descrevem essas criaturas de narrativas horríveis como antíteses humanas, negações de indivíduos sociais. São seres repulsivos, grotescos, ameaçadores e bizarros.
Alguns filmes de horror, no entanto, têm monstros belos. É o caso de Possessão (1981), de Andrej Zulawski, que tem a estonteante Isabelle Adjani como uma criatura atormentada que passa o filme todo perturbando o marido, vivido por Sam Neil.
A narrativa é uma densa análise dos problemas de um matrimônio. Logo nas primeiras cenas, percebemos que o casal não está no seu melhor momento. Ela o trai, pois se sente abandonada. Ele largou o emprego para tentar se reconciliar com a esposa.
Mesmo assim, a união falha. Aos poucos, percebemos que isso ocorre por causa de uma criatura de tentáculos banhada de sangue, um dos amantes da personagem de Adjani. Perto do final do filme, esse monstro passa por um processo kafkiano e se torna Sam Neil.
Essa confusão de duplos humanos com monstros do filme de Zulawski se evidencia na segunda personagem de Adjani na trama, uma professora que seduz Neil. É por ela que descobrimos que o marido-monstro de sua sósia virou uma criatura sem sentimentos.
Possessão é um longa-metragem bem cultuado, justamente por deixar muitas pontas soltas em sua trama. Vi umas duas vezes, mas ainda fico confuso com algumas soluções adotadas pelo diretor. Minha aposta é que se trata de uma obra com um visual bem legal, cuja narrativa discorre sobre como o relacionamento a dois nos torna desumanos, monstruosos. Mas, no fundo, fico com a impressão de que preciso ver o filme de novo.
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