A menos de um metro de distância da poeirenta Estrada do Central, a sequência da rua Quinze de Novembro em Morretes no Litoral, encontramos uma palheta de cores sendo utilizada pelo pintor Renê Tomczak, de 50 anos e assinatura RS Tomczak. O desafio dele era retratar a paisagem à frente: uma área de terra revolvida com alguma vegetação perdida entre uma ou outra árvore e, ao fundo, o majestoso e corpulento maciço do Marumbi, uma das cadeias de montanhas mais belas da porção paranaense da Serra do Mar.
A escolha de locais inusitados para fazer uma pintura faz parte do cotidiano do artista, empenhado na reprodução de cenários bonitos ao redor de Curitiba. Inspirados em paisagistas paranaenses – como Guido Viaro, Alfredo Andersen e o morretense Theodoro De Bona – Renê sai de casa, na capital, sem um destino certo em um busca de um cenário que possa virar um quadro.
Segundo ele, a lerdeza cada vez maior para se deslocar dentro de Curitiba influencia diretamente na escolha do roteiro. “Se eu não quero pegar trânsito, vou no rumo de Campo Largo, Ponta Grossa. Ou então, venho para o Litoral. Se estou um pouco mais disposto, encaro atravessar a Cidade Industrial e vou em direção à Araucária.” Dificuldade não enfrentada pelos mestres décadas atrás. “Os fundos da Casa do Viaro era campo e ele morava perto do centro. Agora não tem como, tem que sair (da cidade).”
Renê, formado pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap), conta que utilizar a beira de estrada como estúdio rende histórias curiosas, como a senhora que o assustou por aproximar-se sem ele perceber para colocar-lhe um boné sobre a cabeça durante um início de tarde quente, após ela passar a manhã de olho naquele cara estranho do outro lado da rua. Mas, no geral, o artista diz que pessoas humildes, parte delas agricultores, são os que mais tendem a valorizar o trabalho. “Eles reconhecem o local, veem a poesia.”
Os cenários um tanto bucólicos retratados por RS Tomczak viajam na velocidade da modernidade para sustentar o artista. Os quadros pintados por ele são fotografados e oferecidos para a compra em um site: confira aqui. “Com a internet hoje em dia a divulgação é instantânea.” O Marumbi em tinta a óleo já está lá.
Preocupado com a qualidade, questiono – como inocente leigo que sou em qualquer coisa que se chame de arte – se a poeira não interfere na tinta. “Isso é uma constante. Acaba sendo incorporada”, responde um tranquilo Renê enquanto uma nuvem marrom de terra decanta lentamente ao nosso redor após a passagem de um carro ao nosso lado.
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