O violinista da BR-277 Antônio Marques Ferreira (Foto: Brunno Covello / Agência de Notícias Gazeta do Povo)| Foto:
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“Tem um cara ali tocando violino?”. Eu e o Brunno fizemos quase ao mesmo tempo a pergunta um ao outro ao trafegar pela BR-277 em Laranjeiras do Sul. Voltamos e conferimos. Nossos olhos estavam certos: Antônio Marques Ferreira, 26 anos, toca violino todo o início de tarde na beira da principal rodovia do Paraná há dois anos e meio. Obviamente, ninguém o ouve. Mas isso não é importante. Antônio toca para ser feliz e isso é o que importa. “Deus me chamou para isso”, revela.

Nem a falta de uma das quatro cordas do instrumento desmotiva o Violinista do Palmeiras, como o rapaz é conhecido depois de uma reportagem do jornal da cidade. “Meu sonho é ser famoso. Tenho paixão pela música.” Antônio diz tocar trompete, violão e flauta doce, além da paixão principal: o violino. “Se Deus quiser, vou comprar uma flauta transversal. Quero tocar todos os instrumentos. Um maestro veio na cidade e eu pedi: ‘o que precisa para ser maestro?’. Ele disse que precisa tocar todos os instrumentos.”

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A mãe, Ana Rita Ferreira, atesta o entusiasmo que a música desperta em Antônio. “Desde os 8 anos ele fala em ser músico.” Os pais administram uma oficina mecânica na beira da BR-277. Não foi fácil para aceitarem a simplicidade do sonho de menino, muito menos o palco escolhido para as apresentações. “Teve um fazendeiro que viu ele tocar na rodovia. Veio aqui e disse que tínhamos que internar ele.” Precisamos internar um fazendeiro, digo eu. “Os caminhoneiros gostam dele (do violinista, não do fazendeiro)”, diz a mãe.

Antônio guarda com carinho na memória os detalhes da compra do primeiro violino, bancado pelo pai: Antônio Laureci Ferreira. “Eu nunca acreditava que poderia comprar um. Achava que isso era coisa de gente rica. Um dia veio a loja Salfer para cá e peguei um panfleto. Levei para casa e de noite vi um violino por R$ 200. Pensei: ‘Devo estar cansado. Não pode.’ No outro dia, vi de novo. Era R$ 200 mesmo. Aí pedi para meu pai. Ele disse “não, isso não é coisa para você.’ Mas eu insisti, insisti e aí tinha uns ferro-velho na oficina. Eu ajudei a juntar e nos vendemos. Deu R$ 600. Aí eu falei pro meu pai: ‘tem o violino, não esqueça’. Depois ele disse para minha mãe: ‘vai lá e compre o violino.” Uma saga que continua com a espera pela chegada da encomenda e a montagem, feita inicialmente por um “rapaz que conserta radiador”.

O violinista, porém, enfrentou muita dor antes de pegar a estrada. Há cinco anos ele recebeu um transplante de córnea e, segundo a mãe, a cirurgia desencadeou uma ‘neuralgia do trigêmeo’. Uma espécie de obstrução de um nervo trigêmeo que temos na face e causa “uma dor absolutamente inesquecível”, segundo o dr. Drauzio Varella. Foram dois anos até um neurologista conseguir fazer o diagnóstico e recomendar uma nova cirurgia para resolver o problema. Depois disso, vieram os ensaios na fanfarra de Laranjeiras do Sul, o violão, o violino e a 277.

Mas e a rodovia, por que tocar na beira da estrada? “Para perder a timidez”.

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