No início de 1985 foi fundada a Orquestra Sinfônica do Paraná. Era o tempo da administração de José Richa, e graças à energia e entusiasmo de Eleni Bettes, que na época ocupava uma importante coordenadoria na Secretaria de Cultura, a orquestra começou com o pé direito, sem apadrinhamentos políticos com concurso público para maestros e músicos. Eu, que fui selecionado no concurso, e o renomado maestro Alceo Bocchino dividimos a direção da orquestra. Dividimos a direção e os infortúnios de lidar com uma administração que nos tratava como algo que só tinha aparecido para criar problemas. Eu fui contratado em março, e os músicos em abril. Não havia cadeiras, não havia estantes, não havia partituras e, sobretudo não havia boa vontade. O maestro Bocchino morava no Rio de Janeiro e eu tinha que enfrentar as feras ajudado apenas por Eleni. Um funcionário do teatro famoso por sua insensibilidade deu um murro na mesa e disse: “se esse bando de vagabundos não começar a tocar vou desfazer a contratação”. Lembrei que eu tinha em casa o material completo da Abertura da ópera Anacréon de Luigi Cherubini que eu tinha acabado de reger com a OSPA em Porto Alegre. Pedi aos músicos que levassem as estantes, improvisamos um espaço e finalmente tocamos o primeiro acorde juntos. A orquestra começou em Ré maior. Expliquei por telefone ao maestro Bocchino o que estava se passando, e ele pediu que eu tentasse achar as partes da Oitava Sinfonia de Beethoven. Consegui as partes através do arquivista da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, e comecei a ler com os músicos. Não tínhamos tímpanos, e o então timpanista da orquestra, o Marcão (Marco Salustiano Vidal Donato) batia as notas no ar, e quando arrumamos uns tímpanos miseráveis emprestados ele ficava arrasado com a falta de afinação do Fá sustenido agudo do final da Sinfonia de Beethoven.
Calamos a boca de quem queria nos denegrir e fomos
negociar uma data para que a orquestra se apresentasse. Novo sofrimento. Vinham com enormes planilhas com o teatro ocupado por formaturas e congêneres. Eu e Eleni chamamos às falas a direção dizendo que a orquestra tinha o direito de se apresentar, e depois de muito lero lero arranjaram uma data no meio da semana, isso é arranjaram uma “data que sobrou”. Definida então a data de 28 de maio ensaiamos com um enorme entusiasmo. Ficou estabelecido que eu regesse a Abertura Anacréon , o Maestro Bocchino regeria a Oitava de Beethoven, e o solista do programa seria o pianista Fernando Lopes. Vale a pena ressaltar que o grande pianista veio somente porque era nosso amigo, pois seu cachê era algo vergonhoso.
A estréia da orquestra entusiasmou Curitiba e marcou o meu primeiro contato com o público da cidade. Regi a Orquestra Sinfônica do Paraná mais de 250 vezes (concertos, óperas, ballets), mas a emoção daquela data nunca foi igual. Lamento apenas que as dificuldades financeiras do conjunto continuam as mesmas e vejo com alarmante preocupação esta discussão sobre “privatização”. Deixo aqui registrada a minha gratidão a Eleni Bettes. Eu e todos os músicos da época da fundação da orquestra sabemos que sem ela nada seria possível.
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