Bailarinos demitidos em manifestação ontem. Foto de Tom Lisboa| Foto:

14 anos de descaso, incompetência e protelações levaram o Balé Teatro Guaíra e a Orquestra Sinfônica do Paraná a um impasse. Conforme já expliquei anteriormente (vide texto aqui) o primeiro passo para o caos presente se deu há muito tempo, por ordem do então governador do Estado, Roberto Requião em 1992, quando transformou todos os músicos e bailarinos do Teatro Guaíra em funcionários estatutários com estabilidade, algo a meu ver muito discutível quando nos referimos a artistas. A partir daí concursos públicos foram rareando e as soluções alternativas, especialmente na gestão do Governador Jaime Lerner, foram de uma ineficácia tremenda. Em 2003 com a volta de Requião ao governo do Estado (sim, ele de novo) criou-se uma solução “mágica”: contratar músicos e bailarinos através da sistemática de cargos comissionados. Os bailarinos mais velhos (estatutários) formaram em 1999 uma companhia para acolhe-los, o “G2 Cia de Dança”, que abarca técnicas “alternativas”, e a partir de 2003 todos os bailarinos do Balé Teatro Guaíra (a companhia oficial do teatro) passaram a ser contratados como comissionados. No caso dos músicos a troca foi mais gradual, sendo que antes da hecatombe desta semana metade dos instrumentistas era comissionado e a outra metade eram estatutários. Desde o início da implantação deste sistema de comissionados (2003) a prática foi questionada pelo Tribunal de contas e outros órgãos de fiscalização do Estado, mas foi-se empurrando com a barriga (por 14 anos!), até que o cerco foi gradualmente se apertando até que nesta semana os artistas contratados como comissionados foram definitivamente demitidos. Todos, sim todos, os bailarinos do Balé Teatro Guaíra e metade dos 85 músicos da orquestra. Com apenas 40 músicos a orquestra não tem pessoal necessário para executar obras ditas sinfônicas. Se o Balé Teatro Guaíra não existe mais, a orquestra ainda pode fazer eventuais apresentações, como realizou ontem em Campo Largo comemorando o aniversário da cidade da região metropolitana, certamente um pedido político, mas com naipes incompletos fica difícil algo de decente ser apresentado pelo que resta da orquestra.

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Comissionados ganhavam mais???

Ao se falar em cargos comissionados muita gente pensa naqueles salários nababescos que pululam na corrupção nossa de cada dia. Não era o caso dos músicos e bailarinos. Além de não terem nenhuma garantia trabalhista os salários eram bem menores do que os pagos aos colegas estatutários. Isso na orquestra beira o grotesco: dois músicos tocando a mesma partitura recebendo com diferença de 50%. Grotesco. Foram demitidos alguns músicos entre os melhores do país, como o clarinetista André Ehrlich, as violoncelistas Maria Alice Brandão e Adriane Savitzky, as violinistas Leila Taschek e Maria Esther Brandão e o flautista Fabrício Ribeiro. Mil perdões pelos não citados, mas meu estomago se revolta sabendo destas demissões, e neste momento a memória pode falhar.

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Mais uma solução “mágica”?

A solução para o problema tem sido alardeada como possível através de uma contratação através de uma OS, a Palco Paraná. Far-se-á um simulacro de concurso público e os artistas serão então contratados. Mesmo sabendo-se que a demissão definitiva viria, só agora, com as atividades paralisadas, é que se pensa em concretizar o concurso, que na melhor das hipóteses se realizará no fim de abril ou começo de maio. Há o temor de um candidato entrar com um recurso contra o tipo de avaliação. Daí serão meses de espera para uma solução legal. O mais injusto em tudo isso é que músicos e bailarinos que atuam há anos competirão em igualdade com qualquer candidato que se apresentar, o que possibilita a não contratação de um veterano. Os salários propostos pela Palco Paraná são menores do que dos músicos e bailarinos estatutários. Resumo da ópera: soluções capengas, que levarão, talvez, a um novo impasse em pouco tempo.