Cerimônias de abertura de Olimpíadas são frequentemente verdadeiros “shows de horror”, e o que está planejado para a abertura da Olimpíada do Rio de Janeiro na próxima sexta-feira parece mais uma vez confirmar isso. Existem poucas exceções, que, neste momento, valem a pena serem lembradas. Uma delas aconteceu em 2014 na abertura das Olimpíadas de inverno na cidade russa de Sochi. O mundo ficou encantado com um espetáculo que soube valorizar a arte e a cultura do país anfitrião de forma extremamente sábia. Foram lembrados os mais importantes criadores artísticos do país: escritores, compositores, cineastas, pintores, etc. Em “quadros vivos” lá estava o patrimônio cultural do povo russo: Dostoiévski, Nabokov, Kandinsky, Chagal, Eisenstein, Borodin, Tchaikovsky, etc. Se bem que havia uma propaganda sub-reptícia das “maravilhas” do governo de Vladimir Putin não houve a menor dúvida de que o que apareceu na abertura da Olimpíada de Sochi foi o riquíssimo patrimônio cultural russo. Na Olimpíada brasileira, porém, estamos longe disso: ao ver o que se está preparando para o show de abertura do evento no Rio de Janeiro percebo que o pensamento local é muito mais comercial e limitado, que alia uma gritante falta de bom gosto a uma ausência de visão do que se está perdendo: uma oportunidade única para se divulgar a nível mundial o que de mais rico existe em nossa cultura.
Oportunidade perdida
Os bilhões de pessoas que assistirão o show deixarão de saber que o Brasil é a pátria de grandes expressões artísticas como Villa-Lobos, Portinari, Machado de Assis, e tantos outros. Essas pessoas, por culpa de uma organização tacanha, deixarão de saber que um dos mais importantes pianistas da atualidade é o brasileiro Nelson Freire. Talvez apareça algo do genial Tom Jobim, mas me pergunto: a MPB é a única coisa digna a se apresentar ao mundo e que seja valiosa em nosso patrimônio artístico? Se o Brasil fosse consciente do que ele realmente tem de precioso, e contasse nos “quadros pensantes” de nosso desmoralizado governo alguém mais preparado, mostraria numa certa altura do espetáculo o Coro e Orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro executando o final do Choros Nº 10 de Villa-Lobos, Nelson Freire tocando “A Folia de um bloco infantil” do Momoprecoce ou o grande Paulo Szot (estrela da Broadway e do Metropolitan Opera) cantando “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso. E que beleza se a “Neojibá” (aquela notável orquestra jovem da Bahia) mostrasse na apresentação que nossas crianças não são apenas os decantados “trombadinhas” que aparecem diariamente na mídia, mas também podem ser exímios instrumentistas. Mas o que teremos no lugar disso? Com raras exceções (Caetano Veloso, Gilberto Gil) um lixo comercial caríssimo que ao mesmo tempo denigre o nível do evento e falseia para o mundo quem somos nós em termos culturais. A triste conclusão é mesmo que no país de Villa-Lobos quem aparece, num evento planetário, é Wesley Safadão. Lamentável.
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