“Um grupo de Música de Câmera formado apenas por mulheres em Kinshasa, capital da República democrática do Congo”. Num dos países mais pobres do mundo acontecer algo assim me levou a pesquisar sobre o assunto. Primeiro tomei contato com algumas matérias na imprensa europeia e assisti dois documentários: “Kinshasa Symphony” de 2010 e “Congo in four acts”, também de 2010. Através destas fontes apendi que em Kinshasa existe desde 1994 uma orquestra sinfônica, a “Orchestre Symphonique Kimbanguiste” (homenagem a um líder religioso), que tem em seu repertório obras de Beethoven, Verdi, Tchaikovsky e muitos outros compositores. Num cenário desolador, o que se percebe é uma paixão pela música clássica que rompe qualquer tipo de paradigma. Camelôs, costureiras, faxineiras, engraxates, pessoas com todo tipo de atividade é que tocam na orquestra e que cantam no coral que atua junto com ela. Daí um ensemble unicamente de mulheres acabou expandindo a experiência artística, e mudando radicalmente a vida de algumas pessoas.
Congo: pobreza, herança de um cruel colonialismo
Vale a pena entender o cenário onde isso se passa. A República democrática do Congo é um país que se tornou independente da Bélgica, um país que cometeu muitas atrocidades na sua então colônia, apenas em 1960. Apesar de suas imensas riquezas naturais (minérios, diamantes,etc) e uma biodiversidade que só se compara à do Brasil, é um dos países mais pobres do mundo, e foi vítima de uma guerra civil que deixou mais de três milhões de mortos. Quase não existe saneamento básico, inúmeras doenças acometem sua população, a insegurança política é assustadora. Quando falo de um grupo de mulheres formando um grupo de música clássica no Congo lembro que o estupro foi uma das mais frequentes atrocidades dos conflitos do país e que a dignidade das mulheres do país está bem longe de ser respeitada.
Kaori Fujii, uma flautista com ideais
Um trabalho que deveria ser uma rápida visita ao país africano resultou numa mudança radical na vida da flautista japonesa residente em Nova York, Kaori Fujii. Ela, que já gravou muita música brasileira, se apaixonou pelas possibilidades na melhoria de vida destas pessoas, que apesar de inúmeras dificuldades, exerciam algum tipo de atividade musical. Conseguiu ajuda da Embaixada do Japão em Kinshasa e acabou fundando um tipo de ONG, a “Music Beyond, Inc”, que arrecada fundos para compra e manutenção de instrumentos, master classes, compra de partituras, etc. Tendo uma rotina de idas frequentes ao país africano e vendo as dificuldades ainda maiores enfrentadas pelas mulheres de lá, incentivou o surgimento de um grupo exclusivamente feminino. Ao assistirmos vídeos tanto da Orquestra quanto deste Ensemble feminino podemos até reparar certos deslizes técnicos, mas o mais importante está lá: dignidade e paixão. A própria vestimenta das mulheres, inspiradas em sua própria cultura, demonstra um tipo de transformação pessoal que talvez só através da arte (talvez do esporte) é possível. Sei que, apesar de nossas mazelas, a problemática do Brasil não se compara às carências do Congo, mas fica a dica e a constatação: a música tem a capacidade de transformar vidas.
Vídeo do grupo
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