A música clássica brasileira tem encontrado na Bahia, em particular em Salvador, manifestações absolutamente surpreendentes. É lá que se realiza, por exemplo, o mais impressionante projeto educativo na área de música do país, expressado de forma incontestável pela orquestra de jovens chamada de Neojiba (Núcleos estaduais de orquestras de orquestras jovens e infantis da Bahia), a mais impactante formação sinfônica do Brasil, conduzida com esmero pelo pianista e maestro Ricardo Castro. Também é lá que renasceu das cinzas a OSBA (Orquestra Sinfônica da Bahia) que conta com o inesgotável empenho de seu diretor musical, Carlos Prazeres, e um enorme comprometimento de seus músicos. Creio eu que nenhuma orquestra sinfônica do país atue em locais e eventos mais alternativos do que ela, conquistando um enorme público jovem para a música clássica. Num cenário de excelência a criação musical não poderia estar ausente. Tanto a Neojiba quanto a OSBA executam muita música composta na Bahia, e é deste meio tão profícuo que surge uma das obras sinfônicas mais importantes composta no Brasil nas últimas décadas: o Concerto para clarinete e orquestra do baiano Wellington Gomes, que foi estreado em outubro deste ano no Teatro Castro Alves.
Nascido em 1960 Wellington Gomes foi aluno de Ernest Widmer (1927-1990), um suíço que viveu décadas na Bahia e do bahiano Jamary Oliveira. Seu estilo não só absorve o patrimônio cultural da Bahia mas se abre de forma espetacular para todas as técnicas modernas de composição, inclusive da música popular. Seu Concerto para clarinete e orquestra, obra escrita no ano passado, é uma composição em um longo movimento único (24 minutos) claramente dividido em três seções. O solista é exposto às maiores dificuldades técnicas para o instrumento e com uma atuação praticamente constante, sem intermezzos orquestrais. A instrumentação é soberba, sobretudo a escrita para os metais. Harmonicamente há a flexibilidade ideal de um atonalismo muitas vezes com incursões em centros tonais. Obra que explora um constante e ininterrupto diálogo entre o solista e a orquestra acaba realizando um tipo de conversa musical totalmente inédita não só em termos brasileiros mas em termos mundiais. Ao ouvir a obra sinto claras influencias do húngaro Ligeti, do finlandês Magnus Lindberg junto a sons quase jaazísticos (muitos glissandos e portamentos do clarinete) e até uma certa visão expressionista do chorinho. Enfim, uma obra prima que merece ser conhecida e executada com frequência. A beleza musical é inquestionável.
Merece importante menção a execução do clarinetista Pedro Robatto, esteio musical de Salvador, um dos mais importantes clarinetistas do Brasil. O clarinetista Pedro Robatto Robatto é primeiro clarineta da OSBA há muitos anos e um importante defensor da criação musical brasileira. Sua tese de doutorado foi sobre o Concerto para clarinete e orquestra de Ernest Widmer, obra que tive o prazer de reger em Salvador junto a ePedro Robatto há alguns anos. A obra de Wellington Gomes talvez não existisse se não fosse a presença deste instrumentista excepcional que incentivou muito o compositor. Em relação ao excelente vídeo que existe no Youtube destaco não só a excelente atuação da OSBA mas a clara e precisa regência do Maestro Guilherme Mannis. Parabéns a todos.
Conheça o concerto. Excelente vídeo da obra gravado no Teatro Castro Alves em outubro de 2017
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