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Debussy faz 150 anos !!!
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Claude Debussy nasceu exatamente há 150 anos, em 22 de agosto de 1862. Considero Debussy o mais influente compositor do século XX. A lista de músicos que devem muito à sua arte é enorme: Stravinsky, Bartók, Villa-Lobos, Szymanovski, de Falla, entre inúmeros outros. Até mesmo compositores contemporâneos, atuais (sim eles existem), como a Finlandesa Kaija Saariaho mostram em suas obras ecos das concepções originais do mestre francês.

A obra de Debussy é extremamente vasta. Sua produção pianística é extremamente interessante, desde sua Suite Bergamasque (que inclui o famoso Clair de lune) de 1890, até seus Estudos de 1915, passando pelos geniais 24 Prelúdios que ele escreveu por volta de 1908-1910. Sua produção sinfônica mudou totalmente a maneira de se enxergar a orquestra. Seu “Prelúdio para a tarde de um fauno”, de 1894 inaugura uma maneira completamente “anti-alemã” de se instrumentar. Sua obra máxima em termos sinfônicos é La Mer (O mar), obra esta que eu pessoalmente considero a mais importante partitura sinfônica da primeira década do século XX. Sua única ópera completada, “Pelleas e Mélisande”, é uma partitura única, de uma originalidade que fizeram com que esta obra fosse objeto de culto e ódio por muitas décadas.

Debussy foi detentor de uma personalidade extremamente marcante e polêmica. Por muitos anos escreveu crônicas com o pseudônimo de “Senhor Colcheia” (Monsieur Croche). Nestas crônicas ele ridiculariza o público e, sobretudo a música alemã, cuja hegemonia ele colocava sempre em dúvida. Ao mesmo tempo existem coisas muito divertidas que podemos perceber em alguns detalhes. Ele escreveu um quarteto de cordas. Aliás, é nele que podemos ver uma rara incursão sua no terreno “formal” alemão ( ele não compôs sinfonias ou concertos por exemplo). Pois bem, numa atitude bem irônica ele batizou o quarteto de Quarteto de cordas em Sol Menor Opus 10. Existem obras de Debussy com outros números de opus? Não. Ele colocou este “opus 10” como uma secreta ironia aos alemães que, segundo o Monsieur Croche, davam números para tudo. Nunca procurem seu “opus 11 “ ou seu “opus 9“. Outro detalhe divertido da vida de Debussy, é que o venerado professor de Harmonia e Contraponto do conservatório de Paris, Dubois, odiava Debussy a tal ponto que ia na porta do teatro que montou a estreia de Pelleas et Mélisande” com uma folha de papel, e anotava todos os nomes de seus alunos que entravam no teatro, para dar-lhes notas baixas nas próximas avaliações

guardian.co.uk
O compositor Claude Debussy

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O que Debussy mudou na música ocidental? Sobretudo a sua inventividade formal, chegando à obra mais revolucionária em termos de estrutura de sua época, o ballet Jeux (Jogos) de 1912. Mas junto a esta revolução formal Debussy operou uma completa revolução na maneira de se encarar a harmonia. Usou outras escalas (hexatônica e pentatônica), além de tornar muitas vezes independente a “vida” da harmonia e da melodia. Ele acabou de vez com a noção de função tonal, e em muitas vezes um acorde só faz papel de “tapete” harmônico sobre o qual atuam as melodias. Assim como o pintor Monet pintava o mesmo “assunto” (rolos de feno ou a fachada de uma catedral) em diversas estações do ano ou diversos horários do dia, fazendo com que o objeto do quadro ficasse numa posição secundária, Debussy toma a mesma melodia, e muda por diversas vezes a harmonia que a acompanha. Isto faz com que a mudança da cor tonal tenha uma importância maior do que a própria melodia.

Debussy, além da musica erudita, foi um musico que influenciou de forma decisiva o Jazz (que ele cita em algumas composições) e a musica popular em diversas áreas.

Como disse numa entrevista o maestro finlandês Esa-Peka Salonen, Debussy é atual, e o mundo precisa muito de sua arte. Ele é essencial.

Ouvir Debussy com Arturo Benedetti Michelangeli é um excelente presente de aniversário ao grande compositor francês.

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