Quando jovem, o compositor Gustav Mahler (1860-1911) buscava formas alternativas em suas primeiras obras. Prova disso é sua primeira obra importante, “Das Klagend Lied” (O canto do lamento), obra escrita entre 1878 e 1880, que é uma longa cantata em três partes para solistas coro e orquestra. Outra fixação do jovem Mahler era escrever canções, sendo que sua segunda composição importante é o ciclo de canções, com texto do próprio compositor, “Lieder eines fahrenden Gesellen” (Canções de um companheiro de viagem), ciclo escrito entre 1884 e 1885. Nestas duas obras há ausência completa de formas clássicas como forma sonata ou forma rondó. Por isso o primeiro trabalho de cunho sinfônico do compositor não foi, no princípio, chamado de “Sinfonia”. Quando da estreia, em Budapest no ano de 1889, Mahler chamou a obra de “Poema sinfônico em duas partes”. Aquela que viria a ser conhecida posteriormente como “Sinfonia Nº 1 em ré maior” foi apresentada em Hamburgo no ano de 1893 com um título ainda mais detalhado: Titan - Eine Tondichtung in Symphonieform in zwei Teilen und fünf Sätzen für großes Orchester (Titan – Um poema sinfônico em duas partes e cinco movimentos para grande orquestra). “Titan” seria um personagem heróico de um romance de 1803 de Jean Paul (Johann Paul Friedrich Richter), escritor alemão falecido em 1825. Em Hamburgo, no programa do concerto de 27 de outubro de 1893, há um esquema bem claro:
Titan – poema sinfônico em forma de sinfonia em duas partes e cinco movimentos
Primeira parte: Lembranças da juventude, flores, frutos e espinhos
I – Primavera sem fim (Introdução e Allegro Comodo)
II – Flores (Andante)
III – A toda vela (Scherzo)
Segunda parte: Comédia humana
IV – Fracassado (Marcha fúnebre)
V – Do inferno (Allegro furioso)
Foi somente em 1896 que Mahler passará a chamar a obra de Sinfonia Nº1 em ré maior, omitindo o segundo movimento (conhecido com o título em alemão “Blumine”), colocando uma barra de repetição para se ter a ilusão de uma forma sonata no primeiro movimento, aumentando o número de instrumentos, e desprovendo qualquer intenção descritiva na obra. Ele passa a enxergar sua partitura simplesmente como uma sinfonia.
Uma gravação reveladora
A orquestra conhecida como “Les siécles”, que apresenta as obras com instrumentos da época e país da composição executada, nos oferece, em uma gravação lançada no mês passado, uma execução única desta versão original daquela que será chamada posteriormente de “Sinfonia Nº 1” de Mahler. Como a partitura da estreia da composição em Budapest está perdida se utilizam da partitura usada em Hamburgo em 1893. Ouvidos acostumados à versão definitiva notarão, além do movimento posteriormente omitido, “Blumine”, diversas alterações na orquestração. Não só a execução nos revela as intenções originais do compositor, mas também, através da excelente regência de François-Xavier Roth, nos brinda com uma execução plena de vigor e esmero. Numa obra que se utiliza de muitas ideias musicais das primeiras obras do compositor, é importante sabermos que há um programa descritivo por trás de uma das mais conhecidas obras do autor. Não há dúvida de que nossa compreensão da partitura torna-se bem mais abrangente.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS