Muitos músicos eruditos brasileiros se vêem forçados a morar ou fazer carreira fora do país. O Brasil, num misto de desprezo e indiferença, não reconhece feitos grandiosos daqueles compatriotas que, com enorme sucesso e esforço, continuam sua batalha para conseguir um lugar ao sol numa linguagem alheia à atenção local. Exemplo disso vem de dois jovens pianistas brasileiros que acabam de conseguir algo raro entre os mais exigentes críticos musicais europeus: a unanimidade. Dois pianistas que seguem a trilha de Guiomar Novaes, Magdalena Tagliaferro, Roberto Szidon e Nelson Freire, entre outros. Grandes pianistas brasileiros com imenso reconhecimento internacional.
Chopin e Beethoven são coisas de brasileiro?
Primeiro quero falar do paulista, descendente de romenos, Cristian Budu. Nascido em 1988 em Diadema (SP) foi aluno de Eduardo Monteiro em São Paulo e se aperfeiçoou nos Estados Unidos, onde mora atualmente. Foi o vencedor de um dos mais importantes concursos de piano do mundo, o Concurso Clara Haskil, que acontece na Suíça nos anos ímpares. Cristian Budu foi o primeiro prêmio no concurso de 2013 (em 2015 este primeiro lugar não foi concedido) e foi um selo suíço, Claves, que o convidou a fazer seu primeiro CD. No programa os Prelúdios opus 28 de Chopin e as Bagatelas opus 33 de Beethoven. O sucesso de crítica foi retumbante: na revista inglesa Gramophone do último mês de julho este CD esteve na seleta lista das escolhas do editor (Editor’s choices).
Pelo que eu me lembre nunca um artista brasileiro (talvez Nelson Freire) teve esta honra. São famosas as oposições de opinião entre as revistas inglesas e as francesas. Pois neste caso houve uma admirável unanimidade. No exemplar de julho/agosto da revista Diapason o exigente crítico Alain Lompech deu 5 estrelas para o CD, se desfazendo em elogios. Em resumo, Cristian Budu iniciou sua carreira discográfica internacional com o pé direito.
Sonata Brasileira: admiração europeia
Outro sucesso incontestável é o CD chamado “Sonata Brasileira”, lançado pelo selo norte-americano Odradek Records. Quem toca é o pianista paulista Antonio Vaz Lemes, nascido em 1977, discípulo de Gilberto Tinetti. Neste CD aparecem quatro sonatas escritas por compositores brasileiros. A única mais conhecida é a Sonata de Camargo Guarnieri, escrita em 1972, que já foi gravada de forma notável por Max Barros (Naxos) e Belkiss Carneiro de Mendonça (Paulus). Mas as outras três sonatas são maravilhosas revelações. Não sei qual é a melhor, mas todas me impressionaram. A Sonata Nº 1 de Edmundo Villani-Côrtes, compositor paulista com 85 anos de idade, que tem fama de possuir que um bom gosto ímpar. Esta sonata é uma obra linda que nos oferece ao mesmo tempo uma escrita pianística de grande beleza e eficácia. Há também mais uma demonstração deste músico multi- facetado chamado André Mehmari através de sua Sonata em lá onde há uma mistura de sabores brasileiros e jazzísticos. Foi através deste CD que conheci a arte do artista multi-performático (ele compõe, canta e toca) Marcelo Amazonas através de uma bela Sonata – Homenagem a Poulenc composta em 2011. Pois bem, este CD foi elogiadíssimo na Revista Gramophone do mês de setembro (elas saem sempre no meio do mês anterior). Surpreendente feito: uma grande foto do pianista vem com a seguinte legenda: “um Pollini latino americano” (referindo-se ao grande pianista italiano). O que me deu imensa alegria na crítica de Jed Distler foi o elogio que fez das quatro composições, analisadas detalhadamente, demonstrando familiaridade com a linguagem da nossa música. Ficou claro que não foi apenas a atuação impecável de Antonio Vaz Lemes que chamou a atenção, mas também as quatro obras brasileiras enfocadas. A crítica termina com uma forte palavra: “Recomendado”. Vindo da mais sisuda e exigente revista sobre música clássica da atualidade esta palavra equivale mesmo a uma “medalha de ouro”.
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