O concerto que regerei no próximo dia 24 frente à Orquestra câmera da cidade de Curitiba me leva a tecer algumas considerações sobre uma das obras a serem executadas no concerto, e que muito raramente é tocada no Brasil. “Metamorfoses, estudo para 23 instrumentos de cordas solo”, uma das mais experimentais partituras de Richard Strauss (1864-1949), um dos maiores e mais influentes compositores da virada do século XIX para o século XX, foi completada em abril de 1945, pouco antes do final da Segunda Grande Guerra. Strauss, alguns dias depois de completada a obra, escreveu em seu diário: “O período mais terrível da história da humanidade chega a seu fim. O reinado de doze anos de bestialidade, ignorância e anti-cultura sob o comando dos maiores criminosos, durante os quais os 2000 anos de evolução cultural da Alemanha encontraram a sua destruição”. O compositor, que na época tinha 81 anos de idade, escreve sim uma espécie de Requiem para a cultura alemã, especialmente a cultura musical, talvez constatando que ela foi incapaz de desviar o país de uma trilha destruidora e monstruosa. Quando chamo a obra de experimental me refiro ao fato de que a partitura é escrita para 23 solistas, não uma orquestra de cordas normal. Quanto ao suposto Requiem uma das maiores evidencias vem do fato de que um dos 4 temas da obra é derivado do tema da Marcha Fúnebre da Sinfonia Eroica de Beethoven. O sentimento da catástrofe iminente vem da própria estrutura interna da obra: a peça começa num andamento bem lento em dó menor e conforme o andamento vai se acelerando a música vai se tornando cada vez mais lírica e efusiva em tons maiores até que há uma violenta volta ao Adagio inicial e obscuras cores são concluídas com a citação de Beethoven.
Outra evidencia deste “Requiem” ocorre no final da obra, quando as cordas mais graves tocam o tema da Eroica completo, o próprio Strauss escreve “In memoriam”. Me pergunto: “In memoriam” a quem? Aos mortos na guerra? À impotência da arte? No excelente livro “Richard Strauss: Man, Musician, Enigma” de Michael Kennedy (Cambridge University press) fica evidente que o bombardeio que destruiu a Ópera de Viena (12 de março de 1945), cidade em que Strauss vivia na época, foi dos maiores golpes na vida do compositor, e foi o impulso para que começasse a compor esta obra logo no dia seguinte. Golpe ainda maior foi, na volta do compositor a Munique no final de março daquele ano, constatar que toda a área central de sua cidade natal, inclusive o Teatro de ópera, foi reduzida a escombros. A obra foi concluída em 15 de abril daquele ano (1945), num pacato distrito de Munique, Garmisch, poucas semanas antes do suicídio de Hitler. Tais eventos levaram Strauss a compor sua mais importante obra orquestral depois de três décadas em que ele se dedicou principalmente à composição de óperas e canções. Esta catarse do fim da guerra parece mesmo ter sido completada e exaurida nesta obra pois as composições posteriores a ela, que ele escreveria até sua morte em 1949, possuem um caráter de leveza e resignação (Concerto para oboé, Duo concertino e Quatro últimas canções).
O concerto
Para os curitibanos uma rara oportunidade de ouvir esta complexa obra (que como já disse é raramente executada no Brasil) acontecerá nesta terça feira, 24 de outubro às 20 horas na Capela Santa Maria. Além da obra de Strauss serão executadas obras de Barber (Adagio para cordas), Sibelius (Romance em dó maior) e Hindemith (Música fúnebre para viola solo e coras). O solista da bela obra de Hindemith será o violista Ulisses Silva. Este concerto marca a abertura do III encontro nacional de violistas, organizado pela ABRAV, Associação Brasileira de Violistas.
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