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Faleceu hoje no Rio de Janeiro o maestro, compositor e pianista brasileiro Alceo Bocchino. Nascido em Curitiba no ano de 1918, morava no Rio de Janeiro desde 1946. Músico de altíssima competência e com uma audição absolutamente perfeita Bocchino foi fundador e maestro de diversas orquestras. Cronologicamente a função mais importante que teve foi a de fundador e diretor musical da Orquestra Sinfônica Nacional da Rádio MEC, um projeto sancionado pelo então presidente Juscelino Kubitschek. Mas Bocchino atuou também como maestro titular da Orquestra Sinfônica Brasileira de 1963 a 1965. Neste seu período junto à Rádio Nacional fez algo que é comum nos dias de hoje, mas que era uma novidade no fim dos anos 50: trabalhar conjuntamente com músicos ligados à MPB. Na Rádio Mayrink Veiga foi arranjador de Carlos Galhardo, Orlando Silva, Sílvio Caldas e Nelson Gonçalves. Artistas do nível de Tom Jobin, Paulo Tapajós e Radamés Gnatalli atuaram com frequência com o maestro paranaense, sem impedi-lo de realizar obras extremamente complexas. Exemplo de sua competência vem de uma informação pouco conhecida hoje em dia .Foi ele, junto com o grande pianista húngaro György Sándor, a executar pela primeira vez no Brasil os três concertos para piano de Bela Bartók. Foi também o regente da tardia estreia brasileira do Réquiem de Brahms, e o responsável pela estreia do Quinto concerto para piano e orquestra de Villa-Lobos com a célebre pianista Felicja Blumenthal. Seu amor pela música francesa fez com que obras de Debussy e Ravel soassem de forma absolutamente convincente.

Em 1985, junto comigo, deu início às atividades da Orquestra Sinfônica do Paraná. Sou testemunha do empenho de Bocchino frente à ignorância e desprezo como as questões de cultura eram tratadas por aqui naquela época. Ficamos horas em salas de espera de autoridades que deveriam ser competentes, mendigando espaços, condições físicas mínimas, numa época em que a Orquestra ensaiava no foyer do segundo balcão do Teatro Guaíra, sem qualquer condição de acústica. Neste aspecto o maestro foi um herói.

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Como compositor Bocchino deixou poucas obras, mas que são todas de uma excepcional qualidade. Ele mesmo dizia que era um compositor “de horas vagas”. Insisti com ele para que tirasse da gaveta a sua Suíte Miniatura para orquestra de 1954. Depois de ouvi-la sob minha regência o maestro resolveu expandi-la, e foi desta forma que gravou a obra no primeiro LP da Sinfônica do Paraná no fim dos anos 80. Destaco aqui a qualidade de seu Quarteto de Cordas de 1949.

Aprendi muito com Alceo Bocchino, e guardo como um presente dos céus a última vez que o vi. Foi em 2011 no Rio de Janeiro. Eu regia lá um concerto manifesto para a não demissão de dezenas de excelentes músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira. Ao final do concerto, que contou com seu apoio, seu abraço caloroso e suas palavras elogiosas estão guardadas lá dentro do meu coração, a sete chaves.

Como despedida uma obra bem apropriada neste momento de Bocchino. Ele atua ao piano e Lia Salgado canta.

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