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Música clássica brasileira: o sucesso internacional ignorado aqui

A magnífica Orquestra Jovem da Bahia e seu diretor musical Ricardo Castro (Foto: )

Fico estarrecido com o desprezo como é tratada a música clássica na imprensa nacional. Mais estarrecido quando tomo conhecimento por veículos de informação estrangeiros sobre o impressionante sucesso de músicos brasileiros no exterior. Não vou falar pela enésima vez do prestígio internacional de Nelson Freire, ao que parece o único nome de um artista brasileiro voltado à música clássica que a imprensa de vez em quando cita (não que ele não seja merecedor disso). Vou citar quatro fatos, que em outro país ocupariam, com certeza, as páginas dedicadas à cultura.

A magnífica Orquestra Jovem da Bahia e seu diretor musical Ricardo Castro

A magnífica Orquestra Jovem da Bahia e seu diretor musical Ricardo Castro

Neojiba na Europa. Sucesso estarrecedor. Você sabia disso?

Muita gente nem sabe o que é NEOJIBA. Pois esta sigla representa um dos mais importantes acontecimentos artísticos dos últimos anos no país. NEOJIBA são as iniciais de “Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia”, a mais bem sucedida experiência de se implantar o “El sistema” venezuelano no Brasil, cuja atividade começou em 2007. O grupo principal do NEOJIBA é uma orquestra jovem, com 120 jovens músicos e que é regida por seu fundador, o maestro e pianista baiano Ricardo Castro. Este conjunto fez uma turnê pela Europa no mês de setembro, se apresentando em salas importantes como o Auditório Santa Cecilia (Roma, Itália), no Auditório Stravinsky (Montreux, Suíça), onde a Juvenil da Bahia foi a primeira orquestra brasileira a ser residente no Festival de Musique Classique de Montreux-Vevey, no Queen Elizabeth Hall em Londres, e muitas outras. Em Montreux a Orquestra teve como solista nada mais nada menos do que Martha Argerich (que foi solista da orquestra em outras etapas da turnê). Pois bem, ao contrário da imprensa tupiniquim que ignorou o fato, uma das mais conceituadas publicações de música clássica do planeta, a francêsa Diapason escreveu, através de seu critico Rémy Louis, uma longa, detalhada e elogiosa crítica aos três concertos que a Orquestra deu na Suíça no mês de setembro. Por esta crítica fiquei sabendo que no primeiro concerto foi tocado o Concerto para dois pianos de Poulenc com Martha Argerich e Alexander Gurning como solistas. Como bis deram a parte final do Scaramouche de Milhaud, baseado na produção musical brasileira. Pois bem: o duo pianístico solicitou um percussionista da orquestra para ajuda-los com um pandeiro. Deve ter sido bem legal !!! A orquestra neste concerto tocou a Primeira Sinfonia de Mahler. Dá para acreditar uma orquestra jovem brasileira tocando uma obra tão difícil? Se os dois primeiros concertos foram regidos por Ricardo Castro, fiquei sabendo que o terceiro foi regido por Yuri Azevedo, um jovem maestro brasileiro (22 anos) que recebeu os maiores elogios do crítico. Grande elogio também para o compositor baiano Wellington Gomes. Sucesso total !!! Casa cheia e público delirante nas três noites. Não resisto a copiar a última frase da crítica: “Urgente: convidar para a França estes demônios brasileiros com um talento único e um sorriso irresistível!”. Esconder este sucesso é sonegar uma informação vital para nós brasileiros, amantes de música clássica ou não.

Paulo Szot em uma cena da ópera

Paulo Szot em uma cena da ópera “A morte de Klinghoffer”

Paulo Szot: cantor brasileiro torna-se uma grande estrela no Metropolitan Opera

Paulo Szot, barítono brasileiro nascido em São Paulo em 1969 tem atuado com frequência no Metropolitan Opera de Nova York. Em 2010 cantou o papel principal de “O nariz”, ópera de Dimitri Shostakovich. O sucesso foi tão grande que em 2011 cantou no mesmo teatro, o mais importante teatro de ópera do mundo, o papel de Escamilo na Carmen de Bizet. Em 2012 cantou o papel de Lescaut na ópera Manon de Massenet junto a grandes nomes da cena lírica internacional como Anna Netrebko e Piotr Beczala. Neste início de novembro de 2014 ele canta o importante papel do “Capitão” da ópera “A morte de Klighoffer” do compositor americano John Adams. A controvérsia sobre o cancelamento da transmissão desta produção nos cinemas de todo o mundo já foi tratada aqui neste blog. Mas o que importa é que um artista brasileiro vem se tornando uma figura de destaque num teatro de importância mundial.

O compositor brasileiro Henrique Oswald

O compositor brasileiro Henrique Oswald

CD com Concerto do brasileiro Henrique Oswald entre os dez mais vendidos na Inglaterra

Mais uma vez fico sabendo algo importante relacionado à música clássica brasileira através da imprensa internacional. A revista BBC Music coloca todos os meses uma lista dos Dez discos de música clássica mais vendidos no Reino Unido numa lista que engloba vendas físicas e downloads. Qual não foi minha surpresa ao ver no último exemplar da publicação que um CD com os concertos para piano de Henrique Oswald (1852-1931) e Alfredo Napoleão (1852-1917) estão nesta lista de mais vendidos (oitavo lugar), à frente mesmo do ciclo de Sinfonias de Brahms com Ricardo Chailly. Oswald, compositor brasileiro. Alfredo Napoleão, compositor português, mas que viveu uma boa parte de sua vida no Brasil. Seu irmão, Arthur Napoleão foi um dos mais importantes editores musicais do Rio de Janeiro. Quem toca é o pianista português Artur Pizzarro. A Orquestra da BBC do país de Gales é regida por Martyn Brabbins. Asseguro que vale a pena conferir. Vale a pena ver também que no libreto que acompanha o CD há uma menção à “Escola de música do Rio de Janeiro” (???). Ao que parece esta instituição (deve ser a Escola de Música da UFRJ) possui o manuscrito do concerto de Oswald. Quem fez a edição foi o musicólogo e compositor minimalista inglês Tim Seddon. Como disse, vale a pena conferir.

Guiomar Novaes. Esquecida aqui, sempre lembrada no exterior

Guiomar Novaes. Esquecida aqui, sempre lembrada no exterior

Guiomar Novaes. Mais uma consagração fora de seu país

A revista francesa Diapason (de novo) acaba de lançar um álbum com 10 cds todos dedicados a obras de Chopin. Para a escolha das gravações já existentes eles mandaram quarenta itens de cada obra sem revelar quem eram os intérpretes para os maiores pianistas da atualidade (de Lugansky a Lang Lang). Sem saber quais eram os escolhidos saiu uma lista de intérpretes notáveis: Martha Argerich, Claudio Arrau, Benedetti Michelangeli, Alfred Cortot, Vladimir Horowitz, William Kapell, Wilhelm Kempff, Dinu Lipatti, Maurizio Pollini, Sergei Rachmaninov, Arthur Rubinstein, Vladimir Sofronitzki, etc. Pois entre tantas estrelas está Guiomar Novaes (1895-1979). Foi escolhido um registro do Segundo Concerto de Chopin que Guiomar gravou em Nova York, com a Filarmônica de lá regida por Georg Szell em 1951. Há quem diga que esta gravação é regida por Leonard Bernstein, mas o pessoal da Diapason tem meios para provar que é mesmo Szell. Mas que é Guiomar, isso ninguém discute. Uma vergonha o Brasil ter tão poucos registros desta grande artista. Não há nenhuma biografia dela e não há mesmo nenhum vídeo dela tocando.

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