Fundada em 1948, desde 1950 a sede da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP) ficava na Rua Emiliano Perneta. Lecionei lá de 1986 até 1988, e já nessa época carecia de restauração, mas de jeitinho em jeitinho ela se aguentava. Pequenas reformas não se mostraram suficientes até que a escola, em 2010, foi transferida para dois prédios alugados no centro da cidade em instalações absolutamente inadequadas, sobretudo na questão de isolamento acústico. As salas, mal dimensionadas para o ensino musical, tornaram o trabalho dos professores e alunos penosos e pouco propícios à concentração. A sede antiga, que reformada poderia ser uma solução, permanece até hoje abandonada. Certamente será uma séria candidata a ter o mesmo destino do Museu Nacional, que pegou fogo há alguns meses. Há quem diga que alguma vez a verba para o restauro já existiu, mas o que se constata é que o prédio, todo pichado, está prestes a desabar.
Nesta situação desoladora o Governo do Estado, o mesmo Governo que abandonou a sede histórica da EMBAP, posa de “salvador da pátria” oferecendo o “Centro de convenções de Curitiba”, que é de sua propriedade, para a nova sede da EMBAP. Não há dúvida de que o auditório do referido Centro de convenções é grande e está bem conservado, mas uma escola de música e artes plásticas é muito mais do que um belo auditório. Vale lembrar que o Centro de convenções, por alguma razão (localização, segurança, sem estacionamento) está sem uso há muito tempo. Houve uma tentativa de usá-lo como sede da Orquestra Sinfônica do Paraná, mas os músicos não aceitaram a “dadivosa” oferta, por questões de segurança e por suas condições de acesso, o que, segundo os músicos da orquestra, inviabilizaria suas apresentações. Depois desta tentativa o local continuou sem uso até que, no final da curta gestão da atual governadora, com pompa e circunstância, o prédio foi oferecido à EMBAP.
O que ninguém é capaz de dizer é se há um projeto de adequação à escola, capaz de tornar aquele edifício adequado e se há uma previsão orçamentária para viabiliza-lo. Como ao que parece este projeto não existe, o que na prática ocorrerá, já que restaurar a sede histórica não parece ser do interesse de ninguém, é que os cursos continuarão a serem ministrados no prédio alugado e inadequado e as atividades artísticas ocorrerão no teatro do Centro de convenções. A luta pela verba para adequação não será fácil: a atual governadora foi concorrente derrotada do próximo governador. E os políticos não são muito afeitos a valorizar obras que eles não inauguraram ou entregaram. Enfim, a escola ganhou um presente que, dentro dele, carrega uma série de problemas sérios a serem resolvidos. O que, inspirado no Cavalo de Troia, popularmente se chama “presente de grego”.
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