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Não há dúvida de que o piano ocupa uma prioridade enorme na música brasileira, tanto por uma literatura extraordinária como pelo fato de pianistas brasileiros (Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Roberto Szidon, Nelson Freire, entre outros) terem alcançado um reconhecimento mundial. Mas seguindo de perto, o violoncelo no universo musical brasileiro se aproxima do piano em termos de relevância. Além de termos violoncelistas que são expoentes mundiais como Aldo Parisot e Antônio Meneses, vemos o violoncelo ocupar um destaque enorme na MPB, sobretudo através do primoroso trabalho de Jaques Morelembaum, sem falar de lideranças musicais que partiram do violoncelo. Os violoncelistas Guerra Vicente e Antônio Lauro Del Claro são exemplos de instrumentistas que foram capazes de multiplicar as manifestações musicais brasileiras partindo de seu instrumento, e muitos violoncelistas brasileiros, como Gustavo Tavares, que mora na Europa há muito tempo, tornaram-se compositores importantes. Seguindo este caminho trilhado por violoncelistas importantes um violoncelista gaúcho, nascido em 1969, tem ajudado bastante a melhor entender esta primazia do violoncelo entre nós. Hugo Pilger, violoncelista do Quarteto Radamés Gnattali e professor da UNIRIO, revelou há três anos que a importância do violoncelo entre nós se originou na extraordinária produção para o instrumento de nosso maior compositor, Heitor Villa-Lobos, que também foi violoncelista. Em 2013 gravou junto com a pianista Lúcia Barrenechea toda a obra de Villa-Lobos para violoncelo e piano e publicou o seu primoroso livro “Villa-Lobos – O Violoncelo e Seu Idiomatismo”, resultado de uma profunda pesquisa de valor inestimável como documentação de nossa história da música (veja aqui o texto que escrevi sobre o livro).
Neste novo CD de Hugo Pilger, ele divulga a extensa obra para violoncelo solo e Conjunto de violoncelos do compositor mineiro Ernani Aguiar. Uma obra que parte das obras para conjunto de violoncelos de Villa-Lobos como a Bachianas Nº 1 (Música para 4 violoncelos, a obra que abre o CD) passa pelo equivalente aos Duos de violino de Bela Bartók (Seis duetos para violoncelos) até chegar numa expressão completamente original na sua vertente mística: Threnun Fratri meo Aloysio (obra que conclui o CD), escrita em homenagem ao violoncelista Aloysio José Viegas, falecido em 2015. Em meio a esta belíssima produção temos raros exemplos de obras brasileiras para violoncelo desacompanhado sendo que fiquei muito impressionado com “Ponteando” de 1989, uma página para violoncelo solo de grande beleza.
Seguindo os passos do genial Guerra Vicente que gravou sozinho em play back todas as partes da Bachianas Nº 1 de Villa-Lobos (linda gravação à qual se soma uma antológica gravação do Trio de cordas de Villa-Lobos em que Guerra atua junto a Ludmila Vinecka e Glêsse Collet) Hugo Pilger gravou também todas as partes das obras para dois, três e quatro violoncelos em play back, mas com um requinte todo especial: gravou com 4 instrumentos diferentes, o que dá a sensação de individualidade em cada parte, mesmo tendo sido tocada por apenas um instrumentista. Em termos técnicos e musicais todas as execuções são de um nível altíssimo, e sinto que a dinastia de violoncelistas brasileiros que vem de Iberê Gomes Grosso e do próprio Villa-Lobos encontra em Hugo Pilger um excelente continuador.
Creio ser importante lembrar que este CD não obteve apoio de nenhuma instituição oficial, sendo que a maior parte do custo foi bancado pelo próprio instrumentista. Num país em que o Ministério da Cultura libera financiamentos até de casamentos julgo ser vergonhosa esta omissão. Este primoroso CD, com um acabamento técnico excepcional, e com um encarte com comentários utilíssimos do maestro André Cardoso, pode ser adquirido através do iTunes (U$ 7,99) em MP 3, e o CD propriamente falando pode ser obtido no site Arlequim (http://www.arlequim.com.br) por R$ 34,00 , no site clássicos (http://www.lojaclassicos.com.br) pelo mesmo preço e através do email villaeovioloncelo@gmail.com por R$ 30,00.