A pianista Henriqueta Duarte, falecida há poucos dias (mais precisamente no dia 3 de agosto). deixa um legado sem precedentes na atividade musical do Estado do Paraná. Creio ser importante documentá-lo.
Nascida em novembro de 1925 (e não 1928, como alguns órgãos erroneamente informam) no interior do Paraná (Porto União), teve a parte mais importante de sua formação musical através de Magda Tagliaferro no Rio de Janeiro, José Cubilis em Madri e Richard Hauser em Viena. Em seu retorno ao Paraná sua atuação foi muio além de uma instrumentista.
Junto ao seu esposo, o Engenheiro Eduardo Garcez Duarte, homem poliglota e de vastíssima cultura, fundou em 1963 a "Pró-Música de Curitiba", organização mantida por assinantes e patrocinadores que trouxe à capital paranaense Orquestras do nível da Gewandhaus de Leipzig e Orquestra de Paris, e artistas do porte de Christian Ferras, Daniel Barenboim e Paul Tortelier. E também é dessa época também a concepção de um projeto ambicioso: cursos de verão, com duração de um mês, destinado a jovens músicos, antecessores das atuais, e muito mais modestas, Oficinas de Música da Prefeitura de Curitiba.
Paralelo a estas atividades, que tornaram Curitiba uma cidade importante no cenário da música clássica do país, Henriqueta fazia outra "revolução" em sua atividade de Professora de piano na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. O nível do ensino subiu drasticamente com sua visão mais cosmopolita. Aposentaram-se as superadas edições "revisadas", que eram usadas então, e se deu preferência às edições originais, "Urtext", como se diz em alemão. Com contatos advindos de seu período em Viena, trouxe para Curitiba grandes mestres como Homero Magalhães e Jaque Klein, que complementavam os cursos na Escola. E por quatro anos foi diretora da Escola, de 1974 até 1978. E, justamente por sua iniciativa neste período, o corpo de professores de instrumentos musicais foi acrescido de professores de instrumentos de orquestra. Através desta ousada iniciativa atuaram de forma regular naEscola de Belas Artes Paulo Bosisio, grande mestre carioca do violino, alem de Harold Emert, primeiro oboé da Sinfônica Brasileira, Zygmund Kubala, violoncelista polonês que morava em São Paulo e o notável flautista paranaense, que atuava também na Sinfônica Brasileira, Norton Morozowki. Não fosse esse esforço de Henriqueta jamais seria formada a Camerata Antiqua de Curitiba, cujos membros até hoje são egressos deste período, e mesmo seria mais difícil a fundação da Orquestra Sinfônica do Paraná.
Não poderia esquecer, neste breve resumo deste importantíssimo legado, falar da enorme quantidade de alunos que Henriqueta Duarte teve, alguns deles com importante atuação no exterior como Roberto Domingos (Alemanha), Vania Pimentel (Estados Unidos) e Renata Bittencourt (França) e outros no Brasil como José Henrique Martins, professor na Universidade Federal da Paraíba, além de Maria Leonor Melo de Macedo e Larissa Boruschenko, que por muitos anos lecionaram na Escola de|Música e Belas Artes. Além disso , sua atuação como pianista teve momentos de grande brilho, tendo feito uma das primeiras execuções do Concerto de Kachaturian no Brasil (sob a regência de Souza Lima) nos anos 1950, e atuou com grupo da excelência do Quarteto Lindsay e do Quinteto de sopros de Munique. Tenho na memória uma excepcional execução do Momoprecoce de Villa-Lobos (obra dedicada a sua mestra Magda Tagliaferro) que a pianista realizou sob minha regência em 1987 com a Sinfônica do Paraná, ocasião em que a pianista obteve um êxito excepcional.
Henriquta Duarte, e seu esposo, Eduardo Garcez Duarte, que se estivesse vivo completaria 100 nos no último dia primeiro de agosto, foram pessoas absolutamente apaixonados por música. Amigos leais, como raramente tive em minha vida, deixam uma lição, um exemplo de operosidade, luta, foram incansáveis. A Henriqueta e a Eduardo, somos eternamente gratos.
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