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O inesgotável reconhecimento internacional do piano brasileiro

Yara Bernette, uma das grandes glórias do piano brasileiro

Yara Bernette, uma das grandes glórias do piano brasileiro

Dois recentes lançamentos do selo alemão Deutsche Grammophon destacam mais uma vez a glória da música clássica para piano brasileira, através de grandes intérpretes e de grandes compositores. Dois lançamentos maravilhosos, que merecem nossa atenção.

O resgate de Yara Bernette

Yara Bernette nasceu em Boston no ano de 1920. De família russo/judaica (o seu nome verdadeiro era Bernette Epstein) mudou para o brasil quando tinha apenas 6 meses. Em São Paulo foi aluna de José Kliass, o grande mestre que formou dezenas de grandes pianistas brasileiros. Pouca gente aqui no Brasil sabe, mas Yara Bernette foi solista da Filarmônica de Berlim, a primeira mulher por lá a ter executado o Segundo Concerto de Brahms (sob a regência de Karl Böhm). Sua estreia na Europa aconteceu em 1955 em Paris tocando a Bachianas Nº 3 de Villa-Lobos sob a regência do autor. Por décadas foi professora na Escola superior de música de Hamburgo. Em 1970 assinou um contrato com o selo Deutsche Grammophon e gravou de Rachmaninov os 10 prelúdios opus 23 e os 13 prelúdios opus 32. A gravadora resolveu omitir alguns prelúdios (Op. 23 No. 3, Op. 32 Nos. 11 e 13, este último o ponto alto da gravação segundo ela própria me confessou) por questão de duração. Yara insistiu que a gravadora deveria lançar as gravações em dois Lps, mas a gravadora insistiu em apenas um LP, o que implicaria na omissão. Yara, que tinha um temperamento muito forte, rompeu o contrato. O LP foi lançado, mesmo contra a vontade da pianista. Passados quase 47 anos a gravadora, postumamente, talvez comemorando os 15 anos da morte da pianista, lança em CD a gravação sem nenhum item ausente. Confesso que ouvi a gravação com profunda emoção lembrando da pessoa adorável e lembrando mais uma vez que Yara era uma artista consumada. Mesmo um pouco tarde a justiça, a esta grande artista, foi feita. Talvez as origens russas e a técnica herdada de Kliass expliquem execuções tão belas e exuberantes. Um CD obrigatório para todos os brasileiros que amam a música clássica em geral e o piano em particular.

A música pianística brasileira num roteiro latino

O jovem pianista francês Simon Ghraichy (nasceu em 1985) tem uma origem bastante peculiar, tendo vivido sua infância entre o México, o Líbano e o Canadá. Aos 16 anos se fixou na França e se voltando de corpo e alma ao piano recebeu orientação de grandes mestres como Michel Beroff e Tuija Hakkila. O contato dele com o Brasil se deu principalmente em 2009, quando foi um dos premiados do concurso do BNDES. Sua carreira explodiu e nos últimos anos se apresentou no Carnegie Hall em Nova York, no Kennedy Center em Washington DC e na Philharmonie de Berlim. Acaba de assinar um contrato com o selo Deutsche Grammophon, e seu primeiro CD tem o título de “Heritages” (heranças). Ele faz um extenso roteiro de ritmos latinos (especialmente espanhóis) em compositores de diversos países: França (Debussy), México (Ponce e Márquez), Espanha (Granados, de Falla e Albéniz), Cuba (Lecuona) e Brasil (Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e Ernesto Nazareth). Seleção inteligente e relações bastante instigantes que valorizam e iluminam todos os autores enfocados. Técnica perfeita e um vigor assombroso oferecem uma visão nova à “Festa do Sertão” de Villa-Lobos colocando-a ao lado do “Intrmezzo” do Mexicano Ponce. O “New York Skyline”, numa versão bem rítmica, ganha nova propulsão junto a Debussy e de Falla. Camargo Guarnieri, pela primeira vez no selo alemão, ganha ares bem latinos em seus Ponteios 30 e 49 (a mais rápida versão que já ouvi, um minuto e meio) e o Odeon de Nazareth com sons de um verdadeiro tango. Simon Ghraichy é um intérprete maravilhoso, e oferece uma solução criativa em meio à mesmice que reina entre os pianistas clássicos. Os dois Cds podem ser baixados através do site “Presto classical” e comprados no formato físico na Amazon, na Presto Classical e no site brasileiro CDpoint.

Vídeos

Yara Bernette num vídeo histórico de Rachmaninoff gravado pouco tempo depois de sua gravação na Alemanha

Simon Ghraichy toca Villa-Lobos

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