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Sou muito mais ligado à música clássica do que ao jazz ou à música popular, mas na época em que colaborava com uma revista de música, a Keyboard brasileira (que infelizmente não existe mais), tomei conhecimento deste pianista, o Diogo Monzo, e, mesmo não sendo da minha área de atuação, me chamou a atenção o seu refinamento instrumental associado a um sofisticado vocabulário harmônico. Por isso fui atrás de seu novo CD (o quarto que ele gravou), “Diogo Monzo- Filho do Brasil”, lançado pelo selo “Biscoito fino”, e fiquei ainda mais surpreso: seus arranjos e improvisações demonstram uma riqueza sem limites e sem fronteiras. Ele cita Bach em meio ao “Choro bandido” de Chico Buarque e Edu Lobo, se utiliza de harmonias impressionistas no “Reencontro” de Luiz Eça (autor homenageado pelo pianista em outro CD), e de um atonalismo que lembra as obras mais experimentais de Kurt Weill no arranjo de “Cor do sol” de Egberto Gismonti. Em uma composição do próprio Monzo, “Song for Fran” escutamos também uma sutil citação de Rachmaninoff. E há também certos gestos altamente criativos do pianista, quando, por exemplo, na sua versão da obra de Noel Rosa “Com que roupa” constantes modulações na melodia original reforçam o significado do título. No livreto do CD há uma frase do maestro Nikolaus Harnoncourt, que cai como uma luva para o instigante e original trabalho do pianista: “Quando a arte nada mais faz do que agradar ela serve apenas para ignorantes”. Em resumo, abandonando os rótulos de “clássico” ou “popular” um importante CD, que inclui um repertório maravilhoso e atuações exemplares e que só tem um pequeno defeito: poderia ser bem mais longo.

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Nascido em 1985 em Barra do Piraí, interior do Estado do Rio de Janeiro, oriundo de uma família de poucos recursos, Diogo Monzo teve uma ajuda decisiva da Igreja Batista frequentada por sua família naquela cidade. Através da ajuda financeira da Igreja pôde estudar na capital do Estado, no Centro Universitário Conservatório Brasileiro de Música, onde, entre inúmeros mestres, se destaca a atuação da professora Maria Teresa Soares, que burilou sua sonoridade e sua técnica. De lá não tardou para que ele desse saltos maiores, fazendo cursos nos Estados Unidos e se apresentando em lugares importantes no Brasil e no Exterior (apresentou-se até no Tribeca Performing Arts Center em Nova York). O recital de lançamento deste seu último CD aconteceu há algumas semanas na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, e este CD já pode ser baixado em diversos sites como o Itunes, o Qobuz, ou ser ouvido em sites de streaming como o Spotify. Somente no meio do mês é que ele estará disponível nas lojas para ser vendido em seu formato físico. Qualquer que seja o meio, vale a pena conhecer e escutar, pelas obras enfocadas, pela qualidade instrumental, e pela beleza do resultado.

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CD de piano solo de Diogo Monzo “O filho do Brasil” (Biscoito Fino)

LUAR DO SERTÃO (Catulo da Paixão Cearense)    CHORO BANDIDO (Edu Lobo / Chico Buarque0 A SAUDADE MATA A GENTE (João de Barro / Antônio Almeida) SEGREDOS (Diogo Monzo) IMAGINA (Tom Jobim) REENCONTRO (Luiz Eça / Fernanda Quinderé) O BARQUINHO (Roberto Menescal / Ronaldo Boscoli) MINHA (Ruy Guerra / Francis Hime) FOR FRAN (Diogo Monzo)  COR DO SOL (Egberto Gismonti) COM QUE ROUPA (Noel Rosa)    OLHAR DE PRINCESA (Luiz Eça) UM A ZERO (Pixinguinha) BIM BOM (João Gilberto)

Pequena amostra   “Um a Zero” de Pixinguinha

 

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