A crise que envolve a realização da 35ª Oficina de música de Curitiba se iniciou no começo do presente mês com a publicação na página do Facebook do prefeito eleito de Curitiba, Rafael Greca, solicitando o cancelamento (ou adiamento) do evento. Eu mesmo comentei o assunto aqui no blog (pode ver aqui) e confesso que naquele momento achei que o principal culpado deste cancelamento seria o futuro prefeito. Apesar de ainda estranhar a maneira como o Sr. Rafael Greca colocou o assunto, enfatizando apoio à saúde em detrimento a um evento cultural, me penitencio por ter naquele momento colocado toda a responsabilidade nos ombros do futuro prefeito. O que pude perceber nestas duas semanas, desde que o assunto veio à baila, é que a atual gestão é tão ou mais responsável pelo caos completo em que se encontra a realização da Oficina de música do próximo ano.
Já foi divulgado pela imprensa que a dívida que o atual prefeito deixará para a próxima administração é de 400 milhões de reais. Até aí, pela baixa na arrecadação de impostos causada pela recessão econômica, seria até previsível. Mas não custa lembrarmos do inflamado discurso feito pelo prefeito Gustavo Fruet em 27 de janeiro deste ano, no encerramento da 34ª oficina no Teatro Guaíra, garantindo que todos os recursos já estavam plenamente garantidos para a Oficina de 1017. Na ocasião Fruet afirmou que havia dotação orçamentária, além de uma nova parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), para organizar a Oficina em 2017. Isto eu e muitas outras pessoas ouviram, e ficou na minha memória o “plenamente garantido”. O que se percebe é que este “plenamente” é algo bem relativo e que vem se tornando a retórica usual de nossos administradores.
Depois de algumas semanas em que as inscrições de alunos ficaram suspensas o Sr. Marino Galvão Jr, presidente do ICAC, pessoa pela qual tenho a maior admiração, vem a público hoje, a 20 dias do início do evento, dizer que já estão liberados 420 mil reais para a chamada pré-produção do evento. Lembro, no entanto, que o custo total da oficina é de 1,7 milhão de reais. A diferença é grande e assustadora.
Sinto-me um pouco constrangido de ocupar este espaço para tratar deste assunto pois faço parte do corpo de professores da Oficina de música, mas como cidadão sinto-me indignado frente à falta de seriedade com que este tipo de assunto é tratado. O que era “plenamente garantido” revela-se agora como uma nebulosa promessa de realização. Difícil acreditar que seria uma atitude cômoda de um prefeito que não mais ocupará o cargo quando da realização do evento. Nesta discussão toda até a vereadora Julieta Reis, autora da lei que insere no calendário oficial da cidade a Oficina de Música de Curitiba, lavou as mãos e nada fez a favor do evento. Mas que o estrago já está feito, disso não tenho dúvida A suspensão das inscrições de alunos, mesmo que tenha sido momentânea, já é por si só extremamente nociva. Ocorra ou não, a 35ª Oficina de Música de Curitiba revelou que, mais uma vez, nem sempre as promessas e garantias vindas de nossos administradores públicos podem ser levadas a sério.