Kent Nagano, um dos mais importantes maestros da atualidade| Foto:
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Ao ver o sucesso que a Filarmônica de Hamburgo, regida por Kent Nagano (veja aqui a crítica da Folha de São Paulo) tem feito em sua excursão ao Brasil lembro de uma história bizarra acontecida com ele aqui em Curitiba no ano de 1977. No mês de janeiro daquele ano acontecia mais um Festival de música, ancestral das Oficinas de Música, que durava todo o mês. Eu vinha para o Curso do Festival como aluno de trompa, de regência e como professor assistente de teoria. Um dos grandes destaques do Curso era a vinda do musicólogo John Reeves White, diretor de um dos mais importantes grupos de música antiga da época, o New York Pro Musica. Ficamos sabendo que ele condicionara a vinda aqui com o convite que deveria ser feito a um jovem maestro americano de origem japonesa, Kent Nagano para lecionar regência, reger a orquestra de estudantes e reger um concerto com a orquestra dos professores. Não há dúvida de que o então jovem maestro Nagano (tinha 25 anos de idade) era um tanto quanto excêntrico. Andava com barulhentos tamancos de madeira, era muito afetado, usava umas batas esvoaçantes e não saia do lado do seu “padrinho”. No teste para os alunos de regência ele reprovou a mim e ao Fabio Mechetti. Isso causou uma certa comoção visto que já tínhamos começado a reger naquela época. Fabio foi embora bem irritado. Eu fiquei, sobretudo pela oportunidade de estudar com um trompista excepcional, Klaus Walendorff (hoje em dia na Filarmônica de Berlim). Voltando ao maestro Kent Nagano, ele começou a ensaiar a orquestra de estudantes. Eu tocava a segunda trompa e as obras eram a Sinfonia N° 31 de Mozart e a Nº 5 de Schubert. A apresentação foi bastante bem, apesar de que sua maneira de reger era completamente diferente de tudo o que eu vira até então. Seria o primeiro dos três concertos que Nagano regeria com os estudantes. Seria mesmo, pois no dia seguinte ele começou a reger a orquestra dos professores e a situação para ele mudou completamente. Não me lembro bem do programa, apenas que tinha o Segundo concerto de Brahms com o Fernando Lopes como solista. Quando ele começou a ensaiar já era um personagem super mal comentado, com um excessivo viés homofóbico: “Gay”, “seu amante lhe arrumou emprego”, “enlouquecida”, e outras coisas mais ditas pelos músicos mais velhos. Fui ver o primeiro ensaio e a cena realmente parecia do filme “Ensaio de Orquestra” do Felinni. A senhora que era spalla foi tocar contrabaixo e o contrabaixista foi tocar violino. Os músicos (professores) faziam uma balbúrdia sem tamanho. No dia seguinte não fui ao ensaio, mas soube que os músicos em conjunto declararam que não iriam tocar com ele, que era um amador, incapaz, surdo, etc. Com isso ele resolveu abandonar o curso e tanto ele quanto o famoso John White foram embora. No entanto antes de ir reuniu a orquestra de estudantes, que gostava bastante dele, e vaticinou o seguinte: “Vocês ainda ouvirão falar de mim. Se um dia voltar a este país vou voltar por cima”. Não deu outra: Kent Nagano é um dos mais importantes maestros da atualidade. Entre os inúmeros cargos que ocupou foi Diretor Musical da Ópera da Baviera (sucedendo a Zubin Mehta) e diretor musical da Orquestra de Montreal (sucedendo Charles Dutoit). Atualmente é Generalmusikdirektor (Diretor geral de música) de Hamburgo. Rege óperas e concertos por lá. Não sei se ele é gay ou não, mas é casado com uma excelente pianista (Mari Kodama), e os dois tem uma filha.