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A importância de uma Rádio como difusora cultural

Toda cidade importante, de um país desenvolvido, tem uma rádio, normalmente estatal, que apresenta uma programação diferenciada, pouco comercial. Os exemplos são inúmeros, sendo que posso aqui citar rapidamente Londres, com a sua BBC, que oferece para o ouvinte seis canais diferentes de rádio, cada um deles com uma programação específica, desde notícias, rock, entrevistas até música clássica. Outra cidade europeia que me vem à mente é Munique, onde uma rádio funciona praticamente da mesma maneira: é a Rádio Estatal da Baviera (Bayerischer Rundfunk). Rádios deste teor existem também na França, na Itália, na Espanha, na Suécia, enfim, países onde a educação foi e é uma prioridade. No caso de nosso país as coisas funcionam de maneira menos abrangente, e na verdade existem de acordo com a (pequena) importância dada à educação entre nós. Ao contrário dos países adiantados, raras são as rádios no Brasil que mantem uma programação de música clássica. Nenhuma rádio brasileira mantêm uma orquestra, ao contrário de rádios da Alemanha, da França, da Finlândia, da Suécia, da Hungria, da Rússia, etc. A BBC inglesa sozinha mantém cinco orquestras diferentes. As únicas orquestras brasileiras mantidas por uma rádio foram extintas : a Orquestra da Rádio MEC e a Sinfonia Cultura, que era mantida pela Fundação Padre Anchieta, responsável pela Rádio e TV Cultura de São Paulo. A música clássica, a programação diferenciada, não rende votos. Por isso existe uma total falta de apoio governamental a esta atividade, que não é, em qualquer lugar do mundo, uma atividade lucrativa. Aqui no Brasil as rádios que transmitem uma programação diferenciada são bem poucas sendo que os exemplos mais destacados são a Rádio MEC FM, transmitida apenas na cidade do Rio de Janeiro (é retransmitida em AM em Brasília com um som muito ruim) e a Rádio Cultura FM de São Paulo. A extinção da Rádio MEC está sendo cogitada por nossos amados políticos (o PT acha a rádio “elitista”), o que demonstra que esta atividade entra na fila das “espécies em extinção”. Aqui no Paraná a Rádio Educativa, chamada hoje em dia de E-Paraná, apresenta programações em duas frequências, FM e AM. A FM, com um canal único (diferente da BBC, por exemplo)atende uma série de exigências em termos de programação alternativa. É a única FM em Curitiba que apresenta MPB de alta qualidade (inclusive instrumental), programas de estilos variados como Tango, Trilhas sonoras, e que apresenta uma programação, também variada, de música clássica.

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A Música Clássica na E- Paraná

No início de sua atividade a Rádio Educativa do Paraná transmitia música clássica em toda a sua programação. Os tempos mudaram, e hoje a rádio, como já disse, faz um balanço bem interessante de gêneros. Quando comecei a trabalhar na Rádio Educativa havia uma faixa, na hora do almoço, com música clássica, e foi nesta faixa que comecei um trabalho que deu um resultado inesperado de audiência. Era um programa diário de meia hora, das 13 às 13h30, que depois se estendeu para uma hora de duração. Quando da gestão do governador Requião, este programa foi extinto (assim como o programa que eu produzia e apresentava de óperas completas , no domingo à noite), e a música clássica quase foi posta fora da programação da emissora, que se tornou um órgão politico, onde o Governador era o principal “âncora” da emissora, ela que deveria ser “educativa”. Hoje em dia três produtores atuam no setor de Música Clássica na E- Paraná: eu, o compositor Harry Crowl e Divanil Brasil Pereira.

A inutilidade do “vitrolão”

Eu sempre acreditei num trabalho didático de uma rádio educativa, sobretudo em nosso país, tão carente de informação cultural. Mesmo nos concertos que rejo, sempre digo algo referente à obra que vai ser executada. Por isso, em meus programas, comento com calma e com diversos exemplos, o que vai ser tocado. Sou contra o “vitrolão”. Em termos radiofônicos usamos o termo “vitrolão” para uma programação sem nenhum tipo de comentário. Uma boa parte da programação da Rádio MEC e da Cultura FM de São Paulo segue, infelizmente, este padrão. O locutor anuncia a obra e os intérpretes, e, se for uma sinfonia de Bruckner, por exemplo, a música fica lá rodando sem nenhum comentário por uma hora e meia. Num programa que produzo e apresento de duas horas de duração, por exemplo, falo por volta de 30 minutos, explicando, comentando, durante todo o programa. Creio que somente assim a Rádio tem um diferencial útil. Música, em meios como o youtube, as pessoas podem ouvir a qualquer momento. Explicações não.

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Meus programas na E – Paraná

Não me sinto muito à vontade de falar de meu trabalho neste blog, mas, perdendo a vergonha vou falar um pouco do que faço na E-Paraná atualmente. É uma atividade que tem me dado muitas alegrias. Produzo e apresento três programas:

Falando de Música

É um programa de duas horas de duração, que vai ao ar das 20 às 22 horas às sextas feiras. Neste programa coloco gravações bem recentes, e tento abranger um repertório bem vasto, dando muito enfoque à musica brasileira, e a novos talentos internacionais, e me orgulho de apresentar gravações que acabaram de sair tanto aqui, como no Exterior. O passado também tem seu lugar. Apresento com frequência programas com artistas falecidos há muito tempo como Clara Haskil, Dinu Lipati, Alfred Cortot e Guiomar Novaes, por exemplo. No entanto os intérpretes nunca são mais importantes do que as composições. Por isso cada obra é explicada minunciosamente.

Os Grandes Ciclos da Historia da Música

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Este é outro programa de duas horas de duração. Vai ao ar às terças feiras das 20 às 22 horas. Aqui apresento ciclos completos, como por exemplo, as nove sinfonias de Beethoven, a obra orquestral de Debussy, os concertos para piano de Bartók, etc. Muitas vezes estes ciclos necessitam diversos programas para que sejam apresentados na íntegra. Em fevereiro, por exemplo, inicio o ciclo de quartetos de Beethoven. Este ciclo ocupará seis programas. Acabará somente em meados de março. Na semana que vem inicio o ciclo dos “Vinte olhares sobre o menino Jesus” de Messiaen. Programação pensada para o natal !!!

O maestro Explica

Este programa, criado pela atual gestão, é um programa de uma hora de duração, que é apresentado em dois horários no domingo: meio dia e 21 horas. É o programa mais didático de todos, e tento montar uma programação que relacione a música clássica com outros campos do entretenimento, como o cinema, o jazz, a poesia, etc. Faço uma pesquisa grande, e mesmo eu acabo aprendendo muita coisa. Eu não tinha a menor ideia, por exemplo, que o premiado compositor de trilhas sonoras John Willians também era o compositor de um excelente concerto para violoncelo e orquestra. Neste caso em particular começo o programa com “Guerra nas estrelas”, e passo para produções eruditas do músico americano. Pela audiência e pelos comentários creio que a fórmula está dando certo.

Diálogo com ouvintes

Este meu trabalho na Rádio Educativa, como já disse, me proporciona uma imensa felicidade. Creio mesmo que a música é a minha fé, e passar isso para os ouvintes tem sido a minha máxima nestes quase quinze anos de trabalho radiofônico. Lembro aqui que meu esforço seria impossível sem o excelente operador de áudio, que me ajuda desde o início de meu trabalho, o Joaci Santos. Ele que justapõe os exemplos que seleciono com as minhas explicações, e me puxa as orelhas quando ultrapasso o tempo previsto para o programa. Sempre coloco meu email pessoal no ar, Colarusso@uol.com.br, para dúvidas e sugestões. O Facebook acabou gerando também um excelente canal de comunicação entre eu e os ouvintes. Coloco na internet a programação que vai ser apresentada,sendo que o link para os programas é:http://www.colarusso.com.br/colarusso_programa.html. Ali é possível acompanhar a programação dos três programas que eu produzo. Escolha o programa, depois escolha o mês, e pronto. Está tudo bem claro. Lembro sempre que, para quem mora em Curitiba, a E-Paraná é transmitida em FM na frequência 97.1. Na internet tem um excelente sintonizador: http://tunein.com/station/?stationId=45446. Mesmo que ele sintonize e para em seguida, tenha calma, pois ele volta de maneira definitiva.

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Na minha visão não adianta termos informações se não compartilhamos isso com outras pessoas. A rádio pode ser um excelente instrumento de difusão de informações. Cumpre utiliza-lo, fazer dela algo realmente útil.