Neste ano de 2013 a música clássica voltou a apresentar momentos bons ao lado de momentos lamentáveis. No intuito de ser otimista vamos começar pelos momentos que julgo positivos.
Boas novas
Como em anos anteriores as orquestras com um alto orçamento (OSESP e Filarmônica de Minas Gerais) voltaram a brilhar. Destaque para a OSESP que, além de uma temporada recheada de grandes nomes internacionais realizou uma excursão pela Europa que culminou com algo bem significativo e ignorado pela imprensa brasileira: a execução da Sinfonia de Luciano Berio, complicada obra composta em 1969, em um importante festival de música contemporânea em Londres.
Apesar de problemas estruturais, como falta de verba ou falta de um lugar próprio para apresentações a maioria das orquestras sinfônicas profissionais do país conseguiram realizar uma temporada que eu chamaria de digna. Destacaria alguns esforços louváveis: a OSPA, Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, apesar de não ter uma sede fixa, e sendo forçada a se apresentar em espaços pífios em termos de acústica, realizou uma temporada extremamente interessante, e a Orquestra Sinfônica do Paraná, apesar de uma dotação orçamentária muito baixa, trouxe solistas e regentes de altíssimo nível, e com um repertório altamente significativo. Em Curitiba reverencio também a criatividade da Camerata Antiqua que com pouquíssima verba conseguiu fazer uma excelente temporada. Vale também ressaltar o crescimento da Orquestra Filarmônica de Goiás, que tem se firmado num espaço com pouca tradição de música sinfônica, e o excelente trabalho desenvolvido na Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília, outra orquestra que soube ser criativa, trazendo através das embaixadas na capital federal excelentes solistas e maestros. Coisas impensáveis há alguns anos é o fato de ter sido montada uma ópera de Wagner, O Navio Fantasma, em Belém do Pará, algo que citaria como notável e esperançoso. Tal ousadia é algo que nos acostumamos a ver em Manaus, mas não em Belém. Ressaltaria ainda o fato da Orquestra Sinfônica da Bahia, que ao que parece encontrou um rumo que lhe deu uma visualidade invejável, e que vive agora um de seus melhores momentos. Para surpresa de muitos os maiores problemas apareceram nos centros com a maior tradição em termos de música clássica: Rio de Janeiro e São Paulo.
São Paulo: nem tudo são flores
São Paulo, além da OSESP, tem demonstrado algumas atividades assombrosas, como a temporada de ópera do Teatro São Pedro, e a temporada internacional que trouxe neste ano nomes do nível do maestro Maris Jansons e do maestro Gustavo Dudamel, entre muitos outros. O problema maior, no meio musical paulista, encontramos na atual gestão do Theatro Municipal. Depois da excelente temporada de 2012, quando foram montadas diversas óperas inéditas no Brasil, com elencos em que se valorizou o artista nacional, a nova gestão, empossada pelo novo prefeito, alardeou que o teatro paulista tornar-se-ia um dos melhores do mundo, abafando através de uma bem articulada assessoria de imprensa, o que já havia sido feito nos anos passados. Não vou discutir o repertório (um execrável musical para abrir uma temporada de óperas…), mas a cada semana parece surgir uma notícia grotesca daquele teatro. Primeiro foi a tentativa da extinção do Coral Paulistano, grupo vocal fundado por Mário de Andrade. Em seguida foi o “escanteamento” da Orquestra Experimental de Repertório, grupo extremamente importante, que monta um repertório realmente “experimental”, que seria levada para um teatro de bairro. Como culminância acontece a demissão do maestro do Coral Lírico, Mário Zaccaro, por não concordar com os desmandos da atual direção. Mário Zaccaro, admirado por seus pares como um excelente maestro, e que atuava há décadas no Coral Lírico, foi demitido por um capricho da direção artística, que insiste em contratar cantores estrangeiros, quase todos da mesma agência do diretor artístico, e que promete um verdadeiro absurdo para a temporada 2014: cantores vindos de fora para cantar pequenas partes, pagos com altíssimos cachês. Os cantores brasileiros, quando cantam, se apresentam em pouquíssimas récitas, normalmente ficando em datas menos importantes. Trazer da Europa cantores para atuarem em partes pequenas, em detrimento dos esforçados cantores brasileiros, é algo extremamente lamentável. Ao que parece a popularidade do atual prefeito de São Paulo anda desabando. A julgar pelas ações grotescas da diretoria do TM paulista essa popularidade continuará caindo especialmente entre os amantes da ópera e da musica clássica.
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro quem acabou se destacando é a OSB Repertório e ópera, a “Orquestra Sinfônica Brasileira dissidente”. Com uma programação muito criativa apresentou alguns títulos inéditos no Brasil, como a ópera “Sonho de uma noite de verão” de Britten e “Trouble in Tahiti” de Bernstein. A Petrobrás Sinfônica apresentou também programas muito interessantes e bem realizados. Pude assistir um concerto com “Le sacre du printemps” de Stravinsky que não deixou dúvida sobre a capacidade de seus músicos e de seu diretor artístico. O Theatro Municipal continua sub utilizando sua estrutura. Neste ano produziram apenas três óperas, se bem que desta vez acertaram, pois cada título homenageou os “aniversariantes” do ano: Wagner, Verdi e Britten. Mas três óperas, num teatro que já foi dos mais importantes do mundo é muito pouco. O Theatro Municipal do Rio de Janeiro continua atuando mais como espaço de aluguel do que como central de produção. Mais uma vez o artista brasileiro perde espaço.
Quem nos deixou
Para concluir vou falar de quem nos deixou. Não serei exaustivo na lista de grandes músicos que faleceram neste ano mas não posso deixar de citar o falecimento do grande compositor francês Henri Dutilleux. Nascido em 1916 foi dos mais refinados e ousados mestres franceses de sua época. Seus concertos para violoncelo – Tout un monde lointain… e para violino– L’arbre des songes, estão entre as páginas mais belas escritas na segunda metade do século XX. Outros músicos excepcionais que faleceram neste ano foram os maestros Colin Davis (inglês) e Wofgang Sawallisch (alemão).
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