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A produção pianística brasileira já legou inúmeras obras primas. Desde as obras ecléticas de Ernesto Nazareth até as sofisticadas estruturas de Villa-Lobos, Mignone, Camargo Guarnieri e Almeida Prado, entre outros, a obra para piano de autores nacionais enriquece de forma decisiva o repertório deste instrumento. O compositor carioca Ricardo Tacuchian, nascido em 1939, dá uma sequência muito bem-vinda a esta notável tradição musical. Sem ser nacionalista a música de Tacuchian apresenta um indisfarçável sotaque brasileiro (vide a valsa lenta na seção central da obra “Tapeçaria”). No recente CD “água-forte” são apresentados momentos daquela que me parece ser a mais importante produção pianística brasileira composta nos últimos anos. A versatilidade do autor nos leva a algo parecido com alguns Estudos para piano que o compositor húngaro Gyorgi Ligeti escreveu no final do século passado: a dificuldade de se definir se a obra é tonal ou não. Na obra “Estruturas gêmeas” para dois pianos, de 1978, e dedicada à compositora Esther Scliar, temos uma inédita mescla de minimalismo com atonalidade. Aliás nesta obra há uma eficiente escrita de “clusters” que se desmancham, algo de uma originalidade que impressiona. Já na obra que dá nome ao CD, “água-forte”, de 2011, este pan tonalismo dá lugar a algumas seções que lembram até o jazz mesclada a uma escrita contrapontística sofisticada. O que surpreende é que esta variedade de meios não compromete nunca a unidade da obra e nem ao prazer da escuta. Ao que parece em alguns momentos o compositor teve a intenção de transpor em música algumas artes visuais, o que levou a títulos como “Grafite” (piano a quatro mãos), “Tapeçaria” (piano solo), “Azulejos” (também piano solo) e a já citada “água-forte” (dois pianos). Estruturas audaciosas e eficientes, criatividade inesgotável. E para completar o CD a mais importante obra brasileira inspirada na infância desde a “Prole do bebê” de Villa-Lobos: “Este verão eles chegaram”, 10 pequenas peças explorando o imaginário infantil, dedicadas ao neto do compositor que é inserido num universo de respeito ao mundo animal.

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Interpretações de alto nível

Estas composições de Ricardo Tacuchiam são executadas por duas excelentes pianistas que são grandes defensoras da produção musical brasileira, aqui e no exterior. A curitibana Ingrid Barancoski, discípula de Ingrid Müller Seraphin e Vânia Pimentel, se doutorou na Universidade do Arizona e desde 1998 é docente na UNIRIO. Tem feito recitais em diversas cidades europeias (Viena, Roma, Heidelberg, etc) sempre apresentando obras de autores brasileiros. Vale a pena destacar que o grande compositor paulista José Antônio de Almeida Prado (1943-2010) dedicou a ela diversas composições e é considerada mesmo uma das maiores intérpretes de sua obra. Tacuchiam dedicou a ela a obra “Azulejos”. Já a carioca Miriam Grosman se doutorou na Universidade Católica de Washington e é Professora Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Membro do Trio Francisco Mignone que é formado por ela e por Afonso Oliveira – flauta e Ricardo Santoro – violoncelo (aclamado pela revista francesa Diapason) é das raras instrumentistas capazes de executar os 6 Estudos transcendentais de Mignone. A obra “Tapeçaria” de Tachchian é dedicada a ela. Estas duas grandes artistas colaboram com a perpetuação de duas glórias nacionais: a excelência de nossos pianistas e a importância da produção pianística de compositores brasileiros. Este CD por enquanto pode ser comprado por R$ 28,00 (mais as taxas de envio) pelo site Tratore. O Link está aqui.
Em breve estará à venda nas livrarias Saraiva e Cultura.