Patricia Kopatchinskaja é um fenômeno especial na música de concerto. Nascida num pequeno país chamado República da Moldávia em 1977, sua atuação musical lembra muitas vezes as suas origens. Este pequeno país já foi parte da União Soviética, e faz fronteira com a Ucrânia e com a Romênia. A música folclórica deste ex-território soviético se aproxima muito da música romena e da música húngara. Por isso ouvir Kopatchinskaja tocar compositores desta região como Georges Enescu e Béla Bartók dá um ar de autenticidade indiscutível. O pai da violinista é um virtuose do Cimbaloum, instrumento folclórico daquela região, e ele participa de um dos Cds mais interessantes da artista, Rapsodia, onde ela executa a belíssima Sonata Nº 3 de Enescu (com a excelente e recém falecida pianista Mihaela Ursuleasa) e a Tziganede Ravel numa interessantíssima versão para violino e Cimbaloum.
Por mais interessantes que sejam as gravações de Patricia Kopatchinskaja nada se compara a este CD duplo recém-lançado na Europa e nos Estados Unidos. Este último lançamento da artista é de uma qualidade extraordinária em diversos aspectos seja na qualidade da gravação, da execução e, sobretudo na escolha do repertório. Muito da excelente qualidade do lançamento se deve ao compositor e maestro húngaro Peter Eötvös. Grande músico, excelente compositor e um notável maestro Eötvös nasceu em 1944 numa região que já foi da Hungria e hoje é da Romênia. Suas óperas se destacam pela excelente escolha dos textos : Três irmãs (Anton Chekhov), O Balcão (Jean Genet) e Angels of America (Tony Kushner) são exemplos de obras com textos dramáticos de qualidade inquestionável, e sua origem étnica o aproxima de forma notável a Patricia Kopatchinskaja.
Existe música de qualidade escrita nos dias de hoje?
Esta pergunta é feita para mim com muita frequência, e este CD duplo é a prova de que a resposta é afirmativa. A primeira obra gravada é o Concerto Nº 2 para violino e orquestra de Béla Bartók, obra de 1938. Este concerto foi inúmeras vezes gravado, mas com certeza esta gravação tem algo especial. Os momentos, por exemplo, em que o compositor utiliza quartos de tom para imitar um violinista camponês afinando seu instrumento, são executados por Kopatchinskaja de uma maneira jamais vista, uma maneira completamente convincente. A regência de Eötvös é igualmente superlativa. Na sequência é executado o Concerto para Violino e orquestra de outro compositor húngaro, György Ligeti, música escrita entre 1990 e 1992.
Ligeti já é um clássico, apesar de ter falecido em 2006, e este seu concerto mostra uma manipulação de ritmos folclóricos da Transilvânia (hoje na Romênia) que desenvolve de forma considerável o que Bartók fez na primeira metade do século XX. Este concerto, afirmo, é uma obra prima! Existe mais de uma gravação com o violinista que executou a primeira audição da obra, o grande Sachsko Gawriloff, que aliás tentou executar a obra em São Paulo, mas na hora H razoes misteriosas o fizeram executar o concerto de …….Dvorák. A versão de Kopatchinskaja/Eötvös, no meu ver, é tremendamente superior. Na lógica do repertório do CD temos mais um concerto húngaro para violino e orquestra. Trata-se de Seven para violino e orquestra, obra de 2006 do próprio Peter Eötvös. Este concerto foi escrito em homenagem aos sete astronautas que morreram num acidente com a nave espacial Columbia, e é escrito numa linguagem bem contemporânea, mas tenho certeza que a repetida audição desta partitura nos leva a descobrir belezas imensas nela.
Três compositores e uma violinista nascidos na mesma região e três concertos para violino e orquestra com o mesmo material em sua origem. Concertos de 1939, 1992 e 2006. Sim, a música de concerto continua viva.
Qualidade de gravação raramente vistas
Este CD duplo foi editado pelo selo Naïve. Nele atuam a excelente Orquestra Sinfônica da Rádio de Frankfurt e o Ensemble Modern (na obra de Ligeti). Além do som da gravação ser absolutamente fantástico (bem superior das sonoridades embaralhadas de outros selos maiores) há um detalhe bem revelador: no livreto que acompanha o CD podemos ler o nome de TODOS os membros das orquestras. É um tipo de respeito que raramente encontramos. Unidade num lançamento que raramente vemos. Um cd para figurar nas discotecas de todos os amantes de boa música. E descubra: sim há muita música clássica boa sendo composta hoje em dia.
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