Ainda há água para rolar por baixo da ponte do primeiro turno (general Mourão e José Dirceu que o digam – e como dizem). Mas, se os brasileiros confirmarem nas urnas o que têm declarado aos institutos de pesquisa, o país pode estar caminhando para o segundo turno do “não”. Se a disputa for mesmo entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), mais ou menos metade dos eleitores votará não para eleger seu candidato preferido, e sim para evitar a vitória de alguém ou algum partido que deteste, que odeie, que não tolere.
“Ah, mas é sempre assim.” Não, não é. Em nenhum momento das seis eleições presidenciais de 1994 a 2014 os dois primeiros colocados nas pesquisas tiveram, a cerca de duas semanas da eleição, tão pouca intenção de voto quanto agora. Da mesma forma, o líder nunca foi tão rejeitado a esta altura da campanha, e a atual repulsa ao vice-líder está entre as maiores já registradas. Os números são de levantamentos Datafolha (1994 e 1998) e Ibope (de 2002 em diante) reunidos pelo jornal “O Globo”.
De 1994 a 2014, a soma das intenções de voto nos dois primeiros colocados das pesquisas divulgadas a aproximadamente duas semanas do pleito variou de 59% (Lula e José Serra em 2002) a 83% (Lula e Geraldo Alckmin em 2006). Na pesquisa Ibope divulgada na última segunda-feira (24)*, a 13 dias da votação, Bolsonaro e Haddad somavam 50% das preferências, apenas.
Os números do líder são especialmente ruins. Bolsonaro tinha 28% das intenções de voto no levantamento publicado no dia 24, porcentual mais baixo dessa série histórica. Nas seis eleições anteriores, o índice do primeiro colocado a duas semanas do primeiro turno foi de no mínimo 38% (Dilma Rousseff em 2014), chegando a 50% (Dilma em 2010).
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Mais espantosos são os porcentuais de eleitores que declaram não votar de jeito nenhum nos candidatos que estão à frente**. Segundo a pesquisa Ibope do dia 24, 46% rejeitam Bolsonaro. Nas seis eleições anteriores, a rejeição ao líder das intenções de voto neste momento da campanha havia variado do mínimo de 17% (Fernando Henrique em 1994) ao máximo de 31% (Dilma Rousseff em 2014).
Haddad não se sai muito melhor. A rejeição a ele chegou a 30% no levantamento Ibope do dia 24. Nas seis eleições anteriores, apenas um segundo colocado nas pesquisas era mais rejeitado a esta altura – em 1994, 40% dos eleitores diziam não votar em Lula de jeito nenhum.
O Ibope divulgou outro levantamento*** nesta semana, na quarta-feira (26), faltando 11 dias para a eleição. Os números mudaram pouco em relação à pesquisa anterior do instituto, dentro da margem de erro, mantendo o cenário de um segundo turno de mais repulsa que preferência.
Tamanha divisão, tamanha aversão de um lado ao outro, é receita para o desastre em 2019. Ou até antes.
* Pesquisa realizada pelo Ibope com 2.506 entrevistados (Brasil) em 22 e 23 de setembro. Contratada por Rede Globo e O Estado de S. Paulo. Registro no TSE: BR-06630/2018. Margem de erro: 2 pontos porcentuais. Confiança: 95%.
** Importante notar que as intenções de voto em todos os candidatos – mais brancos, nulos e indecisos – somam 100%. A rejeição, por outro lado, pode superar 100%, porque os entrevistados podem apontar mais de um candidato em que não votariam de jeito nenhum.
*** Pesquisa realizada pelo Ibope de 22 a 24 de setembro com 2.000 entrevistados (Brasil). Contratada por Confederação Nacional da Indústria. Registro no TSE: BR-04669/2018. Margem de erro: 2 pontos porcentuais. Confiança: 95%.
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