O presidente da CBF se chama Antônio Carlos Nunes de Lima e atende por Coronel Nunes. Foi ele quem deu o voto brasileiro na escolha da sede da Copa de 2026, nesta quarta (13).
O combinado com as outras nove federações da América do Sul era votar na candidatura conjunta de Estados Unidos, México e Canadá. Imaginando que a votação era secreta, Coronel Nunes decidiu votar em Marrocos. O dirigente já havia se mostrado simpático à candidatura do país africano, que nunca hospedou uma Copa – os EUA já foram sede uma vez e o México, duas.
Só que o voto não era secreto. E ficou registrado para todos os que acompanharam o congresso da Fifa, na Rússia. Tentando se explicar, o coronel disse que na verdade quem votou foi um dos delegados brasileiros. Mas, segundo o jornalista Rodrigo Mattos, do UOL, um membro da delegação afirmou que quem apertou o botão foi mesmo o presidente da CBF.
Em declarações a jornalistas brasileiros, Nunes deu a entender que desconhecia o pacto entre os filiados da Conmebol, a confederação sul-americana. O apoio unânime à candidatura da América do Norte, no entanto, havia sido decidido em reunião na segunda (11) e foi divulgado publicamente pela entidade.
O voto brasileiro não fez diferença – EUA, México e Canadá venceram com 134 votos e Marrocos, em sua quinta tentativa de sediar a Copa, conseguiu 65. Mas a escolha pode pôr o Brasil em situação desconfortável. Bem ao seu estilo, o presidente norte-americano, Donald Trump, havia advertido quem votasse contra o projeto conjunto.
“Os Estados Unidos apresentaram uma proposta forte com o Canadá e o México para a Copa do Mundo de 2026. Seria uma pena se países que sempre apoiamos fizessem lobby contra a proposta dos EUA. Por que deveríamos apoiar esses países se eles não nos apoiam (inclusive nas Nações Unidas)?”, questionou Trump, via Twitter, em 26 de abril.
O Brasil é uma das vítimas da política comercial protecionista de Trump, que em março sobretaxou o aço e o alumínio produzidos aqui. A cobrança adicional foi suspensa em seguida, mas oficializada no início deste mês, o que põe em risco R$ 10 bilhões em exportações brasileiras. O voto contrário no congresso da Fifa não vai, necessariamente, se reverter em novas sanções contra o Brasil. Mas também não ajuda em futuras negociações com alguém tão impulsivo como o presidente norte-americano.
A delegação dos EUA, naturalmente, está ciente do voto brasileiro. Mesmo se mostrando decepcionado, o presidente da federação de lá, Carlos Cordeiro, foi conciliador. “Foi uma surpresa para nós quando olhamos os votos. Mas respeitamos as decisões, que são tomadas de forma individual”, disse Cordeiro, segundo relato da “Folha de S.Paulo”. “Mas não estamos preocupados em quem não votou em nós.”
Quem é Coronel Nunes
Presidente da Federação Paraense de Futebol, Coronel Nunes assumiu a presidência da CBF interinamente em dezembro passado, quando Marco Polo del Nero foi suspenso pela Fifa. Meses mais tarde, em abril, a entidade baniu Del Nero do futebol, por considerá-lo culpado de corrupção – ele teria recebido propina na venda de direitos de transmissão.
Nunes foi cabo da Força Aérea Brasileira (FAB) de 1957 a 1966. No ano seguinte ingressou na Polícia Militar do Pará, onde se aposentou como coronel, em 1991.
Em 2016, uma reportagem da Agência Publica revelou que o coronel recebe mais de R$ 14 mil por mês da Força Aérea como anistiado, por ser considerado “vítima de ato de exceção de motivação política” – muito embora, segundo a própria FAB, ele tenha sido “licenciado do serviço ativo em virtude de conclusão de tempo de serviço na graduação de cabo”.
A suposta “motivação política” de seu afastamento também causa estranhamento porque, em relatórios reservados da Aeronáutica obtidos pela Agência Publica, Nunes foi elogiado como servidor exemplar e apegado às diretrizes do regime militar. Cinco das seis promoções que ele recebeu na PM paraense foram durante a ditadura.
A anistia ao Coronel Nunes foi concedida em 2003. Em 2011, um grupo de trabalho interministerial concluiu que não houve motivação política no desligamento de Nunes da FAB e pediu a revisão da anistia, que acabou anulada em 31 de julho de 2012 pelo então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Três dias depois, no entanto, o mesmo Cardozo restabeleceu o pagamento.
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