Jair Bolsonaro caiu no gosto dos empresários muito antes de sua eleição ser dada como certa. Alguns dos apoiadores tentam, agora, influenciar as escolhas do futuro governo. O jogo ainda não terminou, mas, por enquanto, estão perdendo. Pelo menos os industriais. Eles queriam um presidente com autoridade, com pulso firme, e parecem ter conseguido – só que não gostaram.
Não se sabe o que esperavam. Afinal, apoiaram um candidato que invariavelmente remetia questões econômicas a Paulo Guedes, um economista liberal e, portanto, avesso aos ideais desenvolvimentistas que o empresariado costuma aplaudir. Entre outras coisas, Guedes pensa em reduzir benefícios de que o setor produtivo desfruta hoje, como a vastidão de incentivos fiscais. Também prega mais abertura comercial, o que causa arrepios em quem gosta de proteção contra importados.
E o que ocorreu, nestes poucos dias após a eleição? Exatamente o que Bolsonaro repetiu à exaustão: economia é com o Paulo Guedes e será feita a vontade dele.
Vale relembrar os capítulos do namoro do baronato industrial com o capitão reformado. Ainda em julho, após evento em que palestraram vários presidenciáveis, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, tentou explicar a preferência por Bolsonaro. “Ele foi aplaudido 12 vezes por empresários, não deveria ter sido aplaudido? Mas se foi aplaudido é porque gostaram do que ele falou, principalmente naquilo que ele demonstra de autoridade em relação a alguns desmandos que existem no Brasil”, disse.
Representante de um setor que nos governos petistas contou com fartos recursos do contribuinte, na forma de crédito subsidiado ou redução de impostos, Andrade esbanjou platitudes. “Queremos um presidente que faça o Brasil se desenvolver”, explicou. “Que tenha firmeza e autoridade, mas também responsabilidade.”
Uma das falas do capitão reformado que entusiasmaram os empresários foi sobre seus planos para melhorar a qualidade da educação. Disse que no tempo dele “nem se falava em ideologia de gênero”: “Pelo amor de Deus! Nada contra quem é feliz com seu parceiro aí, semelhante, vai ser feliz, quem sabe amanhã eu seja também, não sei, é problema ou solução para mim, então o currículo escolar, realmente, não dá para continuar esse que está aí”. De concreto, não propôs coisa alguma. Mas arrancou risos da plateia.
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Na semana passada, dias antes da eleição, o presidente da CNI voltou a elogiar Bolsonaro pelo que classificou de demonstrações fortes de firmeza e de autoridade. “E nós, brasileiros, estamos sentindo a falta de autoridade, do pulso firme de um presidente”, disse Andrade. Apesar do elogio, o dirigente mandou seu recado. Disse que “não precisamos de um czar na economia”, atacando a ideia de um “superministério” formado pelas pastas da Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio Exterior e comandado por… Paulo Guedes. “Quem vai defender as políticas industriais? A mesma pessoa que está pensando em aumento de imposto ou de receita?”, questionou.
Pareceu ter funcionado. Três dias depois, Bolsonaro voltou atrás e anunciou que o Ministério da Indústria continuaria existindo, longe do alcance de Guedes. “Recebemos a visita de homens da indústria do Brasil falando dos problemas e como eu poderia resolver essas questões deles. Falaram da questão que gostariam que o Ministério da Indústria e Comércio continuasse existindo, vamos atendê-los”, disse o então candidato.
Nesta terça-feira (30), a CNI pagou anúncio de página inteira em grandes jornais parabenizando o presidente eleito. Na peça, a entidade se prontificou a “ser parceira” e manifestou apoio “desde já” para realizar reformas, melhorar o ambiente de negócios, retomar o desenvolvimento etc.
No mesmo dia, à tarde, o baque: Bolsonaro mudou de ideia novamente e mandou avisar que a velha pasta da Indústria será, sim, absorvida pela da Economia, sob as ordens de Paulo Guedes, para quem o antigo ministério se transformou em “trincheira da Primeira Guerra Mundial” na defesa de protecionismos.
“Vamos salvar a indústria brasileira apesar dos industriais brasileiros”, prometeu o “superministro”. Pareceu uma demonstração de autoridade. De pulso firme.
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