Não é qualquer um que chega aos 100. Mas, felizmente, cada vez mais gente consegue.
Estimativas da ONU indicam que em 1990 apenas 240 brasileiros tinham 100 anos ou mais. Na média, menos de duas pessoas a cada milhão de habitantes estavam nessa faixa etária.
Em 2000, o número de centenários passava de 600, uma proporção de 3,6 por milhão.
Dez anos depois, eles eram quase 2,8 mil pessoas. Ou 14 por milhão.
No ano que vem, ainda segundo a ONU, pouco mais de 23 mil brasileiros farão parte desse grupo. Serão 109 centenários a cada milhão de pessoas. Ou, dito de outra forma, de cada 9 mil habitantes, um terá 100 anos ou mais.
Os números do topo da pirâmide etária são apenas uma amostra de como o Brasil está envelhecendo rápido. Uma abordagem mais ampla revela que o número de pessoas com 65 anos ou mais, que era de 6 milhões em 1990, passará de 20 milhões no ano que vem. Um salto de 4% para quase 10% da população em três décadas. E essa proporção deve dobrar até meados da década de 2040, segundo projeções da ONU e do IBGE.
Estamos vivendo mais porque vivemos melhor do que décadas atrás. Mas viveremos melhor daqui para a frente?
Para que isso aconteça, teremos de produzir mais. Sim, pois, ao contrário do que muita gente pensa, o Brasil não é um país rico que distribui mal sua renda. É terrivelmente desigual, sim. Porém, pobre – no máximo, remediado. Ainda que as riquezas fossem divididas igualmente, a fração do PIB que caberia a cada um seria de R$ 2,6 mil por mês. Por esse critério, há uns 80 países à nossa frente.
Com um detalhe: vivemos neste fim de década o auge da população em idade produtiva, que vinha crescendo desde os anos 1970. Hoje cerca de 70% dos brasileiros têm entre 15 e 64 anos. São eles que, em teoria, sustentam os demais – os 30% que têm de zero a 14 anos e de 65 para cima, convencionalmente chamados de dependentes.
De agora em diante, puxado pelos mais velhos, o total de dependentes só vai crescer. Em 2030 eles serão 32% da população. Dez anos depois, 34%. Em 2060, mais de 40%. Haverá menos gente para trabalhar e mais gente para ser sustentada. Teremos de fazer mais com menos.
O panorama seria mais tranquilo se tivéssemos – nas cinco décadas em que a população em idade ativa cresceu sem parar – aproveitado melhor o chamado “bônus demográfico”. Bônus porque, com a proporção de dependentes encolhendo, o país teoricamente poderia poupar algum dinheiro e assim investir mais em educação, saúde, infraestrutura e outras coisas capazes de melhorar o presente e assegurar um futuro melhor.
Mas, como sabemos, nem toda a população em idade ativa estava de fato produzindo. E os que estavam eram menos escolarizados que o ideal, assim como os ferramentais de trabalho – dos equipamentos das empresas às estradas do país – não eram os mais adequados. Resultado: geramos poucas riquezas, poupamos menos ainda e o que poupamos não foi tão bem investido. Aliás, continuamos assim.
O senso comum sugere que, se a população está envelhecendo, tratar melhor os idosos deve ser a prioridade nacional daqui em diante. Mas isso será impossível se continuarmos negligenciando os mais novos.
Segundo o IBGE, 8,1% dos brasileiros com 60 anos ou mais são pobres (suas famílias têm renda per capita de menos de US$ 5,5 por dia) e 1,7%, extremamente pobres (menos de US$ 1,9 por dia).
A realidade da infância é mais perversa: 43,4% da população de zero a 14 anos vive na pobreza e 12,5%, na pobreza extrema, em condições precárias de saúde, educação e tudo mais. Esses jovens brasileiros formam a maioria dos que, nas próximas décadas, terão de segurar a barra de um país muito mais envelhecido. Se não cuidarmos deles, o que poderão fazer pelos mais velhos?
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