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Fernando Jasper

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No Brasil do eterno retorno, Lula faz Petrobras reabrir fábrica que dava prejuízo

Lula Petrobras fertilizantes Araucária
Lula vai anunciar retomada da produção da fábrica de fertilizantes de Araucária, da Petrobras. Unidade, que dava prejuízo, estava "hibernando" desde 2020. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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O presidente Lula está empenhado em levar o Brasil de volta à era pré-impeachment de Dilma, desfazendo o que for possível das gestões Temer e Bolsonaro. Seu esforço é especialmente notável na área econômica, onde busca implantar o que chama de "pensamento de desenvolvimento do governo".

Um modo de atuação que, na recente definição da "The Economist", faz o Brasil "caminhar no lado selvagem financeiro". A revista britânica se refere ao desleixo do presidente com as contas públicas e a seu "flerte renovado com um grande Estado".

No pensamento de Lula, o desenvolvimento pode vir da reabertura de uma fábrica que dava prejuízo. A agenda preliminar prevê que na próxima quinta-feira (15) ele virá ao Paraná para a "retomada da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados" de Araucária, região de Curitiba.

A Fafen pertence à Petrobras e está "hibernando" desde 2020. Segundo a petroleira explicou à época, a matéria-prima (um resíduo da produção de asfalto) era mais cara que o produto final (amônia e ureia). A Petrobras tentava vender a fábrica desde 2017 e chegou a negociar com um grupo russo, mas sem sucesso. Não houve outros interessados. Ano passado, com a mudança de governo, a estatal mudou de ideia e achou por bem retomar a produção.

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A história dessa unidade pode ser tomada como um exemplo – trivial e imperfeito, mas vá lá – da aplicação do conceito de "eterno retorno" no Brasil.

A Fafen foi inaugurada em 1982, no regime militar, e era parte da divisão de fertilizantes da Petrobras. Entrou para o Programa Nacional de Desestatização (PND) no governo Collor e foi vendida para a Bunge em 1993, já na gestão Itamar. Em 2010, foi repassada para a Vale.

Três anos depois, uma reviravolta: a Fafen retornou aos domínios do Estado. A Petrobras recomprou a unidade por US$ 234 milhões, prometendo investir US$ 144 milhões até 2017.

O país era governado por Dilma Rousseff. A então presidente da estatal, Graça Foster, celebrou a retomada da unidade em uma tarde ensolarada do início de junho."Esta fábrica volta às mãos da Petrobras, de onde, com todo respeito à Vale, nunca deveria ter saído, porque tem toda uma sinergia com o nosso sistema", disse Graça em discurso aos funcionários.

Em seguida, enquanto ela caminhava para uma sala onde falaria com jornalistas, alguém pôs "Take a walk on the wild side", de Lou Reed, nas caixas de som. Algo como "dê uma volta pelo lado selvagem".

Apesar do entusiasmo, da tal sinergia e dos milhões de dólares investidos, a Fafen – também chamada de Araucária Nitrogenados S/A (Ansa) – não se tornou um negócio rentável. Segundo um relatório do BTG Pactual, de 2015 a 2021 a Ansa acumulou prejuízo líquido de US$ 320 milhões. E queimou cerca de US$ 400 milhões de caixa.

"Embora ainda acreditemos que a aprovação para a reativação da planta tenha seguido todos os processos internos de governança, garantindo a viabilidade econômica de qualquer projeto, é claro que o setor de fertilizantes historicamente representou desafios para a empresa", anotaram os analistas do banco.

Em 2022, depois que a Rússia invadiu a Ucrânia e pôs em risco o fornecimento de fertilizantes ao país, muita gente questionou a redução da produção nacional ao longo das últimas décadas. Hoje mais de 80% do adubo usado pelo agronegócio brasileiro vem do exterior. Motivo: é mais barato importar do que produzir aqui.

Sem fazer referência à Petrobras, a então ministra da Agricultura, Teresa Cristina, disse que o país se equivocou na estratégia, e que era preciso tratar do assunto "como segurança nacional e segurança alimentar".

É um modo de ver a questão. Quando se fala em soberania, eventualmente surge o argumento de que o país pode assumir prejuízos em nome de um bem maior.

A Gazeta do Povo foi perguntar a especialistas se a Fafen/Ansa poderia amenizar a crise causada pela guerra. A resposta: não, pois sua produção era ínfima para a demanda do mercado antes mesmo do conflito no Leste Europeu.

"A Petrobras perdia nas duas pontas na produção de fertilizantes em Araucária. Perdia na produção, com custo muito alto. E perdia na própria venda do fertilizante, que era caro para o mercado", disse na ocasião o presidente do Sindiadubo, Aluísio Teixeira.

Lula vai anunciar investimentos da Petrobras na Repar, que já esteve na lista da privatização

Também nesta quinta, Lula deve anunciar investimentos na Repar, refinaria que fica ao lado da Fafen. É parte da estratégia lulista de restabelecer o domínio quase completo do Estado no refino.

Desde o governo Temer a Petrobras vinha reduzindo participação nessa área – que, além de dar menos retorno que a exploração de petróleo e gás, ficou conhecida por perdas bilionárias ligadas a má gestão, investimentos malsucedidos e os esquemas de corrupção desvendados pela Lava Jato.

O Cade, órgão que cuida da defesa da concorrência, chegou a obrigar a estatal a vender cerca de 50% de sua capacidade de refino. O governo Bolsonaro conseguiu privatizar uma ou outra unidade. Não teve sucesso com a Repar, que esteve na lista de desestatização.

Fiel ao eterno retorno, o governo Lula mandou a Petrobras pôr mais dinheiro em refinarias que já sugaram dezenas de bilhões – como a Abreu e Lima, em Pernambuco – e recomprar o que foi passado adiante. Tudo com o aval do Cade, que após a troca do governo passou a ver a questão concorrencial de outra forma e dispensou a Petrobras de cumprir o acordo anterior.

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