O apagão que derrubou um quarto do fornecimento de energia do país ocorreu às 8h31 de terça-feira (15). No momento em que escrevo, já se passaram mais de 28 horas e o governo ainda não explicou as causas do blecaute.
Quando o ocorrido ainda não tinha completado 12 horas, um dos maiores conhecedores do setor elétrico já classificava de "surpreendente" e "inacreditável" a demora em esclarecer o que houve.
O que não faltou, da parte das autoridades, foram versões e insinuações.
Antes do meio-dia, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, disse que "houve um problema em Imperatriz", no Maranhão.
No começo da tarde, a primeira-dama, Rosângela da Silva, associou a queda de energia à privatização da Eletrobras em 2022, como se o país jamais tivesse sofrido apagão até então.
(A fim de refrescar memórias, vale lembrar que um dos maiores, o de 2009, começou com curto-circuito em linhas de transmissão de Furnas que acabou por desligar as turbinas de Itaipu, onde Janja trabalhava. As duas empresas eram subordinadas à então estatal Eletrobras.)
No fim da tarde, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, deu entrevista coletiva em que mais especulou do que esclareceu. Disse que a venda da Eletrobras prejudicou o país ao supostamente acabar com "a possibilidade de um sistema harmônico na área elétrica". Mais um a supor que o brasileiro esqueceu dos blecautes das últimas décadas.
Principal responsável pelo setor, Silveira disse que as causas foram "uma contingência no Ceará" e uma segunda falha em local que não revelou. Aproveitou para insinuar a possibilidade de sabotagem e avisou estar pedindo ajuda para Abin e Polícia Federal.
Nesta quarta (16) quem falou foi Rui Costa, chefe da Casa Civil. Foi taxativo em apontar "erro técnico". Qual erro? Ele não sabe. "Precisa identificar o que aconteceu", disse.
Luiz Eduardo Barata, o especialista que citei no segundo parágrafo, garante que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) – que ele já comandou – é bem equipado e tem registradores capazes de identificar o que ocorreu.
"Eu posso afirmar com certeza que, pelo seu nível tecnológico, ele [o ONS] já devia saber quais foram as linhas com problemas", disse Barata em entrevista à "Folha de S.Paulo". "Nunca ficamos tanto tempo sem saber", afirmou.
O apagão causa estranhamento por ter ocorrido num contexto de aparente tranquilidade. Os reservatórios de hidrelétricas estão cheios e há energia de sobra. O consumo está um tanto abaixo dos picos históricos.
Apesar disso, dados do ONS indicam que a robustez da rede elétrica diminuiu neste ano. A proporção de perturbações que acabam levando a cortes de energia alcançou o maior nível desde 2016. Algo não está tão bem quanto deveria, mas as autoridades se eximem de esclarecer.
Representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do ONS estavam na coletiva com Silveira, mas quem falou foi o ministro. Em ocasiões anteriores, cabia aos técnicos explicar as causas de apagões. Desta vez, a tarefa ficou nas mãos dos políticos.
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