Oficialmente o que está em disputa é a tabela de frete. Mas, na prática, caminhoneiros e empresários estão é decidindo quem manda no país. O governo, que já não manda em coisa alguma, alimenta o sonho de um meio-termo que agrade a todos.
Recapitulando:
1) Para pôr fim à greve, o governo editou, entre outras medidas, uma tabela com preços mínimos para o transporte de cargas. Era um velho pedido dos caminhoneiros autônomos, que estavam incomodados com os baixos valores do frete.
2) Os empresários chiaram porque, para atender aos transportadores, a tabela obviamente inflacionou o preço do serviço. Até então ele vinha refletindo o balanço entre oferta (há muito caminhão na praça) e demanda (que andava fraca, em linha com a tímida recuperação da atividade econômica). Incomodados com a alta dos custos, produtores rurais pararam de contratar cargas.
3) Preocupado com as ameaças de empresários, que prometiam levar a questão à Justiça, o governo voltou atrás e editou, na quinta (7), uma nova tabela, com preços 20% mais baixos, em média. Sentindo-se traídos, os caminhoneiros começaram a combinar pelo WhatsApp a retomada da greve a partir de segunda-feira (11).
4) Alarmado com a chance de mais uma paralisação, o governo revogou a nova tabela ainda na quinta, apenas quatro horas depois de publicá-la. A área técnica da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) está reunida com representantes de transportadores desde a manhã desta sexta (8), tentando construir uma novíssima tabela. A discussão pode se estender pelo fim de semana.
5) É claro que uma tabela combinada com os caminhoneiros não fará sorrir os empresários. Na dúvida, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já avisou que entrará no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra o preço mínimo.
O presidente Michel Temer, que gosta de exibir seu apreço pela Constituição, sabe que tabelar preços – ou exigir que os postos cobrem este ou aquele valor pelos combustíveis – fere princípios constitucionais como a livre iniciativa e a livre concorrência. Talvez agora Temer esteja sabendo que, para além de contrariar a Constituição, tabelar preços é criar confusão.
Nesta sexta, pela primeira vez, um integrante do governo admitiu que o preço mínimo do frete pode não resolver coisa alguma. “Está se chegando à conclusão de que tabela talvez não seja a melhor opção”, disse o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, à Rádio Bandeirantes.
Só falta convencer os caminhoneiros.
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