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Não é só no comércio. A política brasileira também entrou no clima de Black Friday. O Planalto está fazendo qualquer negócio para “vender” a reforma da Previdência: oferece um belo desconto no preço político para que os parlamentares aprovem a proposta. Com direito a um jantar de brinde. E o presidente Michel Temer também reabriu o saldão de ofertas ministeriais: leva um cargo na Esplanada agora quem pagar com fidelidade ao governo nas votações do Congresso. E o pagamento não tem de ser feito já, mas de forma parcelada.

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Também há partido fazendo uma “promoção maluca”: aceita mudar até de denominação para “vender” sua vaga na eleição presidencial de 2018. E tem siglas que, a exemplo dos consumidores que se engalfinham para levar a mercadoria em oferta, estão se estapeando para levar um nome para casa.

Reforma da Previdência: 40% off. E leve um vale-jantar de graça

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O presidente Michel Temer está fazendo qualquer negócio para vender aos parlamentares a sua reforma da Previdência.

Nesta semana de Black Friday, deu um generoso desconto de 40% no preço político das mudanças nas aposentadorias. Mexeu aqui, tirou uma coisa impopular de acolá e… voilà, o novo texto da reforma vai proporcionar uma economia aos cofres públicos de R$ 780 bilhões em dez anos. Isso representa 60% do que o Planalto pretendia inicialmente. Mas é um custo que o governo terá de arcar para convencer o Congresso a levar a proposta para casa neste ano pré-eleitoral.

Além do desconto no preço político da aprovação da reforma, Temer também deu um bônus para os deputados: um jantar oferecido na noite da quarta-feira (22) no Palácio da Alvorada. Uma boca-livre, afinal, pode ajudar a engolir a reforma.

Mas ainda assim o Planalto está com dificuldade para vender a reforma. E a estratégia de marketing mudou para vencer as resistências. Agora, a propaganda diz que as mudanças vão cortar privilégios.

É verdade que as regras de aposentadoria dos servidores (atualmente mais generosas) serão as mesmas das que vão valer para os trabalhadores da iniciativa privada. Mas essa igualdade é parcial; e alguns funcionários públicos (os mais antigos) continuarão a receber benefícios bem melhores que os demais brasileiros – inclusive que os demais servidores. Um caso de propaganda enganosa. Ou – precisamente – de propaganda mais ou menos enganosa. Como as que se veem aos montes na Black Friday.

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Sensacional: 4 cadeiras da Esplanada por um punhado de fidelidade nas votações

Parte dos tucanos que comprou a ideia de integrar o governo Temer desistiu do negócio. Ok, o “Código de Defesa do Consumidor de Cargos” permite a devolução dos mesmos a qualquer momento. Mas agora o Planalto se vê às voltas com um estoque de até quatro ministérios e seus cargos (muitos cargos) para desovar no mercado da política.

Aliás, o saldão da Esplanada já começou. E o pagamento tem de ser numa moeda bem específica: fidelidade nas votações no Congresso – especialmente no caso da reforma da Previdência. A promoção é que o partido que topar leva já o cargo e só paga em prestações: quando houver votações de interesse do Planalto.

Muita gente está interessada. E, como Black Friday que se preze tem cotovelada e dedo no olho do consumidor  ao lado que está disputando a mesma mercadoria em promoção, os partidos aliados estão se estapeando pelas vagas abertas.

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Uma das quatro cadeiras tucanas já tem novo dono: o deputado Alexandre Baldy (GO) levou o cobiçado Ministério das Cidades, que tinha como inquilino Bruno Araújo (PSDB-PE). Baldy, por sinal, fez de tudo para ficar com a pasta. Inclusive trocou de partido: saiu do Podemos (que por vezes ensaia um discurso de independência em relação a Temer) e entrou no PP, governista até a medula. Com a bênção do Centrão.

O deputado Carlos Marun (PMDB-MS) está na disputa pela cadeira de ministro da Secretaria de Governo – que é ocupada pelo tucano Antonio Imbassahy (BA). Chegou a sentar nela. Mas se levantou. Ao que tudo indica, porque Imbassahy não quer sair.

Temer ainda tem mais dois cargos tucanos na Esplanada para quem quiser pagar o preço: o de ministro das Relações Exteriores (ocupado hoje por Aloysio Nunes Ferreira) e dos Direitos Humanos (vaga que está hoje com a polêmica Luislinda Valois, a ministra que acha que é escrava do governo por “só” receber R$ 33,7 mil mensais).

Vendo tudo. Até meu nome

Partidos políticos estão oferecendo tudo o que podem – até mesmo o nome – para fechar negócio com algum candidato de peso na eleição presidencial de 2018.

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O PPS fez uma proposta para “vender” a vaga para Luciano Huck: incorpora o movimento do qual o apresentador de televisão faz parte, o Agora. E ainda muda de nome, adotando a denominação desse grupo. Em troca, só pede uma coisa: que Huck concorra pelo partido.

A troca de nome até faria sentido. O PPS é, oficialmente, o Partido Popular Socialista. E Huck tem se aconselhado com economistas da linha liberal. Um socialista liberal? Não orna.

Mas essa parece ser uma daqueles promoções que, pensando bem, pode não ser tão boa quanto parece. O PPS não teria muito mais do que 16 segundos de propaganda eleitoral na televisão para oferecer a Huck. É pouco.

Pois, é. E o nome de partido virou mesmo uma mercadoria cobiçada nesta Black Friday política – tão cobiçada como aquele televisor na promoção que consumidores disputam a tapas quando as lojas abrem as portas na sexta-feira de superofertas.

O Patriotas – partido fundado em 2015, mas ainda sem registro oficial – entrou com duas ações na Justiça contra o Patriota, nova denominação do PEN. O PEN já tem registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas decidiu dar um tapa na aparência adotando a denominação Patriota para ter mais chance de vender o deputado Jair Bolsonaro para o eleitor em 2018. Os integrantes do Patriotas (com “s”) acusam o PEN de passar uma rasteira para tirar da prateleira um produto (o nome) que já tinha dono. Chamem o Procon!

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Colaborou André Gonçalves