A campanha eleitoral para presidente da República começa de verdade a partir de agora, após a definição de todos os 13 candidatos – ou de quase todos, já que a maioria dos analistas aposta que o PT terá necessariamente de trocar o ex-presidente Lula por outro nome no meio da disputa. Com as cartas postas na mesa, a grande dúvida que resta é: o que esperar da eleição 2018? Ainda que não pareça, há uma tendência maior de que o Brasil venha a ter um presidente petista ou tucano a partir do ano que vem.
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Há dois grandes cenários possíveis para esta campanha. Se for uma eleição tradicional, que siga a dinâmica comum nas democracias contemporâneas, muito bem mapeada pela ciência política, o país verá mais do mesmo: um segundo turno entre PT e PSDB – ainda que os concorrentes dessas duas siglas venham a largar atrás nas pesquisas (nesse caso, se o candidato petista não for o ex-presidente Lula).
Mas, após a Lava Jato e diante do grande desencanto da população em relação à política, abriu-se a possibilidade de um resultado fora do comum, de a população escolher algum nome “novo”. Essa é uma hipótese que não pode ser descartada.
Pré-campanha reduziu as chances de o país quebrar o padrão eleitoral tradicional
O período de pré-campanha encerrado agora, contudo, reduziu as chances de haver uma quebra no padrão tradicional. O primeiro sinal disso foi a desistência dos “outsiders”, nomes de fora da política, que tinham viabilidade e cogitaram se lançar na disputa presidencial. Esse foi o caso do apresentador de TV Luciano Huck e do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa. Praticamente sem chances, o dono das lojas Riachuelo, Flávio Rocha, também desembarcou da campanha antes do começo oficial da corrida eleitoral. Sem um “outsider” viável na atual disputa, restaram os políticos tradicionais.
Além disso, PT e PSDB foram hábeis em isolar politicamente seus principais adversários na esquerda (Ciro Gomes, PDT) e na direita (Jair Bolsonaro, PSL), respectivamente.
Petistas fizeram de tudo para que Ciro não tivesse o apoio de outros partidos de esquerda e centro-esquerda, casos do PSB e do PCdoB. Deu certo. O pedetista tem apenas um aliado na disputa: o nanico Avante (antigo PTdoB).
O tucano Geraldo Alckmin, por sua vez, conseguiu impedir que algum partido do chamado centrão se coligasse com Bolsonaro. O capitão da reserva, assim como Ciro, fechou coligação com uma única sigla: o pequenino PRTB. O PSDB também prejudicou Ciro. Ele ensaiou se aproximar de partidos do centrão, mas ficou sem nenhuma dessas siglas, que migaram em bloco para a aliança com Alckmin.
A força do PSDB e do PT em agregar partidos para si e afastar para os outros também dificultou a formação de alianças para Marina Silva (Rede) e Alvaro Dias (Podemos).
A lógica dessa movimentação é simples: petistas e tucanos precisam primeiramente enfraquecer os adversários dentro de seu campo ideológico – esquerda e direita, respectivamente – para chegar ao segundo turno. Ou seja, numa primeira etapa a briga se dá entre direita e direita, e esquerda e esquerda. Só depois é que o embate fica entre esquerda e direita.
Estratégia do isolamento deu certo: adversários do PT e do PSDB ficaram com poucas armas eleitorais
A estratégia de isolar politicamente os adversários, por mais que não garanta votos de forma direta, tirou importantes recursos eleitorais dos concorrentes do PT e do PSDB: tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV, dinheiro para financiar a campanha e cabos eleitorais.
Nesses quesitos, a eleição tem um mastodonte (Alckmin) e dois gigantes (Lula ou o outro candidato do PT; e Henrique Meirelles, do MDB – este, um gigante com pés de barro, já que carrega o peso de ser o candidato do impopular governo Temer). As armas que eles têm à mão, se forem habilmente manipuladas, não vão deixar chance para os demais concorrentes, ainda que hoje eles pareçam mais fortes.
Aos números. Ainda não é oficial. Mas, segundo cálculo do jornal Folha de S.Paulo, Alckmin deve ter direito a 5 minutos e 30 segundos em cada bloco da propaganda eleitoral gratuita e mais, em média, 12,3 comerciais diários de 30 segundos ou 1 minuto na programação normal do rádio e da TV. Lula (ou o seu substituto) terá 2 minutos e 23 segundos no bloco e mais 5,4 inserções diárias. Meirelles, 1 minuto e 54 segundos e 4,3 inserções.
Alvaro Dias e Ciro vão ter, cada um, apenas 40 segundos no bloco e 1,5 inserção na programação normal, em média. Marina, meros 24 segundos na propaganda eleitoral gratuita e menos de uma inserção diária. Bolsonaro terá 14 segundos e menos de uma inserção diária, em média.
Tentar vencer a eleição só com a internet é estratégia duvidosa. E também tem o problema da falta de dinheiro
Candidatos como Bolsonaro desdenham do tempo de TV. Alegam que farão campanha pela internet e que isso será suficiente.
Mas há dois elementos que põem em dúvida essa estratégia. O primeiro é que há algo entre 33% e 42% dos brasileiros sem acesso à web (o primeiro número é de um estudo internacional encomendado em 2017 pela Internet.org, iniciativa do Facebook para levar banda larga a comunidades carentes; e o segundo é do IBGE, com dados também de 2017). Além disso, os demais candidatos também farão campanha pela internet.
E, nesse ponto, os candidatos gigantes terão muito mais dinheiro para também investir na propaganda online, bem como na publicidade tradicional. Os partidos que fazem parte da coligação de Alckmin terão R$ 824,4 milhões do Fundo Eleitoral público. As siglas da chapa do PT, R$ 273,4 milhões. E o MDB, R$ 252,2 milhões.
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A distância para os demais candidatos é enorme. As siglas da coligação de Alvaro Dias dispõem de R$ 83,4 milhões. Os partidos que apoiam Ciro, R$ 73,8 milhões. Os de Marina, R$ 35,2 milhões. As legendas ligadas a Bolsonaro ficarão com apenas R$ 12,3 milhões.
Como essa será uma eleição presidencial sem financiamento empresarial, é improvável que haja mudança significativa na balança do poder econômico eleitoral. Os demais concorrentes teriam de conseguir convencer multidões de eleitores a fazerem doações individuais, autorizadas pela legislação. Parece muito difícil.
Propaganda boca a boca faz muita diferença. E, nesse ponto, PT e PSDB também são mais fortes
Os candidatos do PT, do PSDB e do MDB também têm, em tese, um exército amplamente maior e mais capilarizado de cabos eleitorais para pedir votos: deputados, prefeitos, vereadores ou simples filiados aos partidos que compõem a coligação. Cientistas políticos garantem que isso – a propaganda boca a boca e a conversa de pé de ouvido com o eleitor – faz muito diferença numa eleição presidencial.
Uma ressalva: o MDB é um partido muito desunido. Ao contrário dos petistas e tucanos, muitos emedebistas tradicionalmente costumam migrar para candidaturas alheias. Ainda mais se for para defender o legado de Temer. Ponto contra Meirelles. Usadas com inteligência, essas armas à disposição de Alckmin e do candidato do PT, seja ele quem for, podem reverter um cenário adverso para levá-los ao segundo turno.
Apesar de tudo, condições nunca foram tão boas para os demais candidatos. Mas eles não poderão errar
Para terem chance, os demais candidatos terão de fazer tudo certo e torcer para que o tucano e o petista tropecem em seus próprios pés. No entanto, nunca as condições para que isso ocorra foram tão grandes. Afinal, PT e PSDB estão desgastados por denúncias de corrupção.
Ainda assim, para que o país veja um presidente que não seja petista ou tucano, seria preciso quebrar mais padrão tradicional das eleições, segundo o qual a corrupção não é o principal fator para o eleitor decidir seu voto.
Fernando Henrique Cardoso venceu em 1998 apesar das denúncias de que comprou votos da emenda da reeleição. Lula foi reeleito em 2006 em meio ao escândalo do mensalão. E Dilma Rousseff ganhou um segundo mandato em 2014 mesmo sendo fustigada pela descoberta do esquema de corrupção na Petrobras.