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O plano de Lula para ser candidato esmiuçado: o que está dando certo e errado

Foto: Ricardo Stuckert (Foto: )

A condenação do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) representou a maior derrota do PT na “guerra” do partido para retornar à Presidência da República – já que condenados em segunda instância, em princípio, não podem participar de eleições. Mas o PT conseguiu vencer algumas batalhas menores desde que traçou, no ano passado, uma estratégia para fazer de Lula candidato.

A Gazeta do Povo listou naquela ocasião, julho de 2017, um dia depois de Sergio Moro condenar o petista na primeira instância, quais eram as cinco táticas que o PT ia usar para garantir que Lula seja candidato a presidente. Seis meses depois, é possível avaliar o que está dando certo e o que está dando errado na estratégia petista

1. Disseminar a ideia de que a eleição sem Lula será uma “fraude”

Esse discurso vem sendo repetido à exaustão pelos petistas e por seus aliados de movimentos sociais e até de outros partidos, como o PSol e o PCdoB. Como Lula é hoje o principal personagem político do país, as declarações são reproduzidas pela imprensa. E chegam à população.

O primeiro objetivo desse discurso, que era constranger os desembargadores do TRF-4 a ponto de influenciar o voto deles, não deu certo. Mas o PT vem obtendo outras vitórias nessa batalha da comunicação. Afinal, ao menos uma parcela dos brasileiros que nunca tinha pensado no assunto tende a concordar com a argumentação petista.

Outros “compraram” ao menos uma parte da ideia – a mais essencial para Lula, a de que o ex-presidente tem de participar da eleição.  Alguns políticos de partidos adversários do PT e formadores de opinião independentes, embora não concordem com o argumento de que uma eleição sem o petista seja ilegítima, já falam que o ideal seria que Lula fosse candidato pelo bem da democracia. E que ele, se tiver que ser derrotado, que seja pelas urnas.

2. Antecipar a campanha eleitoral

Lula lançou sua candidatura a presidente em julho de 2017, um dia após ser condenado por Moro. Desde então, faz campanha abertamente. Além de estar em evidência por causa dos processos da Lava Jato, passou também a atrair atenções devido a suas movimentações eleitorais.

Nenhum outro candidato tem tido tanta exposição. Talvez apenas Jair Bolsonaro consiga chegar perto. A elevada exposição pública de Lula, para o bem ou para o mal, faz ele ser lembrado a todo o instante. E é lícito supor que isso tenha relação com a consolidação de seu nome como líder das pesquisas eleitorais.

A antecipação da campanha eleitoral, contudo, tem um objetivo maior para o PT: tornar a candidatura de Lula um “fato consumado” e constranger o Judiciário para não tirá-lo da disputa. A tática não funcionou no TRF-4. O partido agora vai usar essa mesma arma no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável por liberar ou recusar candidatos; e no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou Supremo Tribunal Federal (STF), que poderão autorizar a candidatura por meio de liminar.

3. Questionar a sentença de Sergio Moro e a imprensa

A tática não funcionou no TRF-4. As teses jurídicas contra a sentença de Moro foram derrubadas pelos desembargadores de Porto Alegre. Já o argumento de que Lula foi condenado por Moro sem provas, num “golpe” que tem a imprensa como um de seus articuladores, tampouco influenciou o TRF-4.

Agora, os alvos não são apenas Moro e a imprensa. O TRF-4 entrou na lista de “inimigos”. Mas, embora a relação de desafetos do PT na Justiça esteja aumentando, o Judiciário continua a ser a única esperança para que Lula seja candidato. Afinal, os questionamentos sobre a condenação continuarão a ser feitos nas instâncias superiores para tentar assegurar que o nome de Lula esteja na urna eletrônica.

Do ponto de vista estratégico, os ataques à Lava Jato e à imprensa também têm o objetivo de criar um clima favorável à aceitação dos argumentos de Lula para que seja candidato. Nessa frente, o PT colhe relativo sucesso diante de parte da opinião pública.

4. Mobilizar os movimentos sociais para defender Lula nas ruas

Lula tem o apoio do MST, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), da União Brasileira dos Estudantes (UNE), da CUT, de sindicatos e outras entidades. Mas essa é a arma que o petista mais tem tido dificuldade em utilizar.

Tirando alguns casos esporádicos, como o próprio julgamento no TRF-4, a defesa da candidatura dele não está nas ruas de modo ostensivo. Assim, o PT não consegue construir a imagem de que as massas o defendem – o que também faz parte da estratégia para criar um clima favorável para que sua candidatura seja autorizada.

Talvez por essa razão uma das palavras de ordem mais usadas pelas lideranças do PT e por seus aliados, em encontro que promoveram nesta quinta-feira (25), tenha sido “lutar nas ruas” para garantir a candidatura de Lula.

O presidente da CUT antecipou um pouco do que vem pela frente, falando em desobediência civil, rebelião e greve geral. “Vamos fazer greve nos bancos de vocês [os ‘capitalistas’ que deram sustentação ao ‘golpe’], nas empresas de vocês, no agronegócio de vocês. O desempenho das empresas vai cair”.

Pode ser um tiro no pé do PT, pelo risco de atrair a antipatia da população. A paralisação do país para mostrar força é muito mais uma tática de imobilização do que de mobilização social. Sem ter apoio popular suficiente para arregimentar multidões para uma greve, sindicalistas reúnem poucas pessoas que, contudo, conseguem fazer piquetes em setores-chave, como o transporte coletivo. Isso força a imensa maioria dos trabalhadores a ficar em casa. Passa a impressão de uma paralisação com grande adesão popular, quando na verdade as pessoas simplesmente ficaram impossibilitadas de trabalhar.

5. Conquistar apoio internacional para mostrar que Lula é um perseguido político

A tática da internacionalização da campanha em favor de Lula pretende exercer pressão, de fora para dentro, para que ele seja candidato. E talvez seja a arma do PT que tem acertado o alvo com mais precisão.

O ex-presidente colhe apoios inclusive na meca do capitalismo, que tanto é criticado por seus aliados: os EUA. Na terça-feira (23), véspera do julgamento no TRF-4, o principal jornal norte-americano, The New York Times, publicou um texto assinado por um de seus articulistas, Mark Weisbrot, que afirma que as provas apresentadas contra Lula não seriam levadas a sério num tribunal dos EUA.

Poucos dias antes, 22 congressistas norte-americanos assinaram um documento em que afirmam não haver provas contra o petista. O Congresso dos EUA tem 535 membros. Mas a manifestação, ainda que minoritária, teve repercussão.

Lula também vem angariando o apoio de políticos e intelectuais de esquerda reconhecidos internacionalmente, tais como o linguista e filósofo norte-americano Noam Chomsky, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, o prêmio Nobel da Paz Adolfo Esquivel (argentino) e os ex-presidentes José Mujica (Uruguai) e Cristina Kirchner (Argentina).

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